Bandeiras hasteadas, distribuição de cravos, desfiles,
almoços-convívio, bailaricos, concertos, projeções de filmes, lançamentos de
livros e iniciativas através das redes sociais. As celebrações da revolução de
Abril, 38 anos depois, começam hoje um pouco por todo o país.
Este ano vai ser possível, pela primeira vez, acompanhar a
Revolução dos Cravos, passo a passo, pelo Facebook, como se fosse hoje. A
iniciativa "De 24 para 25 de abril - emissão histórica em direto" é da
Universidade de Coimbra, e vai ser posta em prática durante 24 horas, a partir
das 22h de hoje.
Festas do Dia da Liberdade
A música é um dos pontos altos da celebração, com
concertos de Fausto e Deolinda (Almada), A Naifa (Moita), Sérgio Godinho e
Expensive Soul (Seixal), Cristina Branco (Palmela), Ronda dos Quatro
Caminhos (Montemor-o-Novo) e Carlos do Carmo (Santiago do Cacém).
No Porto, na Casa da Música, no ciclo "Música e
Revolução", o Digitópia Colective e o Ensemble de Música Eletroacústica da ESART
irão interpretar quarta-feira obras dos franceses Pierre Henry e Pierre
Schaffer.
Em Lisboa, decorre hoje o último dia do Festival
dos Cravos no Miradouro S. Pedro de Alcântara, promovido pela Abri l-
Associação Regional para a Democracia e o Desenvolvimento, junto com outras
associações "cujos ideiais se identificam com os valores defendidos nesta
revolução".
Além da animação no jardim, com exposições, gastronomia e venda
de artesanato, haverá, a partir das 20h e até 1h, Arraial Popular
comemorativo do 25 de abril, com espetáculos em palco.
Da agenda das comemorações na capital, destaca-se também
um concerto de música de intervenção moderna com os Bandex, que recupera
excertos de discursos políticos da atualidade, hoje à noite, a partir das
24h, no Teatro do Bairro, enquanto os Irmão Catita tocam no Teatro Comuna.
No espaço Arte&Manha, o concerto "Especial 25 de
Abril" da Orquestra Arte&Manha assinala, às 23h de hoje, "a
liberdade em modo maior num mixolídeo de gerações!". A noite continua com um
"Bailarico Sofisticado".
Quarta-feira, o Arte&Manha convida A Música Portuguesa a
Gostar Dela Própria e alguns artistas nacionais para "festejar a Revolução dos
Cravos e a Liberdade de expressão".
Hoje, no restaurante/bar Bartô, no espaço do
Chapitô, haverá Baile Revolucionário/Especial 25 de Abril, com
músicas de luta para dançar (DJ Set). Quarta-feira, haverá "Conversas
Bravias/Especial 25 de Abril", com Pedro Branco e Patrícia Pina. "Para que
se ouçam no vento, ecoem nos rostos e se elevem nas almas as inquietações que um
dia nos devolveram a liberdade. Nomes como Zeca Afonso, Adriano Correia de
Oliveira, José Mário Branco, Sérgio Godinho, Ary dos Santos, Manuel Alegre,
Francisco Fanhais, Natália Correia, Sophia de Melo Breyner... nunca deixarão de
se fazer ouvir nas pétalas deste cravo que temos de volta a colocar nos canos
das espingardas! Textos e canções de Abril serão o mote para que na lembrança se
aqueçam os sonhos dos que, ainda vivos, ousam ser".
Ainda no Chapitô, o escritor João Tordo e o jornalista
Viriato Teles estarão num encontro denominado "Interpelem-me, não me
atropelem".
Portugal de lés a lés
Em Ponte da Barca - cuja feira foi antecipada para hoje
devido ao feriado do 25 de abril - será apresentado hoje, às 21h, o
livro "Adriano Correia de Oliveira, 1942-1982 Um trovador da Liberdade",
da autoria de Mário Correia, a que se segue um concerto de tributo ao compositor
e também a Zeca Afonso, às 22h00, no átrio dos Paços do Concelho.
Em Matosinhos, com sotaque do Brasil, encena-se às
21h30 de hoje, no Cine-Teatro Constantino Nery, a peça "Ruptura - Um
processo revolucionário", da companhia brasileira Ocamorana, sobre os
acontecimentos revolucionários de abril.
Dirigida por Márcio Boaro, a
companhia Ocamorana levará ao palco "um retrato fiel dos dias que antecederam o
processo democrático em Portugal; das guerras coloniais na África; das angústias
dos soldados do exército português, que levaram a cabo a revolução; do
quotidiano de pessoas comuns, que após 30 anos de ditadura tiveram de aprender a
lidar com a liberdade; e da reinvenção de uma nação que teve de pavimentar os
caminhos da democracia. O espetáculo retrata, ainda, o que esse período tem em
comum com os meses que antecederam as Diretas Já! no Brasil, exatamente dez anos
depois".
Em Aljustrel, é esperado esta noite um discurso do
presidente da câmara, mas este será acompanhado, antes e depois, de uma atuação
do grupo Função Publika. O concerto e espetáculo piromusical começam às 22h, na
Praça da Resistência.
Em Ferreira do Alentejo, a contrastar com o habitual fogo
de artifício, serão lançados 12 morteiros, à meia-noite de hoje, no
parque de exposições e feiras. As comemorações, hoje e amanhã, com atividades
desportivas, exposições e bailes estendem-se a todo o concelho.
Em Grândola, que por estes dias se autointitula "Vila
Morena", será formado o "Maior Cravo Humano da Liberdade". A iniciativa
tem início às 11h30 de amanhã, após o descerramento da placa toponímica da Praça
da Liberdade, junto ao Memorial ao 25 de Abril,
No Redondo, várias associações e clubes locais
integram as comemorações, o concelho é palco concelho é palco de diversas
atividades de culturais e desportivas. Hoje, pelas 22h, o Coliseu de
Redondo recebe o concerto do grupo Rastolhice, inteiramente dedicado às
comemorações do 25 de Abril. O progrma inclui teatro, com "Um dia cheirou-me a
cravos".
Até 10 de maio, o foyer do Centro Cultural de
Redondo apresenta a exposição "A Revolução de Abril", que convida a um olhar
sobre o período antecedente ao 25 de Abril de 1974 que viria a alterar o curso
da história no país.
Em Évora, onde as comemorações tiveram início
ontem, haverá esta noite música e fogo de artifício na praça do Giraldo. Na
freguesia de São Sebastião da Giesteira, a Noite Cultural na sede do grupo
desportivo prevê a apresentação do Rancho Folclórico "Os Camponeses" de
Arraiolos e Grupo de Música Popular "Aguarela do Divôr" da Igrejinha.
Salgueiro Maia, um dos capitães de Abril, será recordado em
Pombal com a deposição, amanhã, de uma coroa de cravos no monumento criado em
homenagem ao militar. Otelo Saraiva de Carvalho, outro dos estrategas da
revolução, estará em Setúbal hoje para apresentar o livro "O Dia Inicial".
As recordações de heróis anónimos daquele período passam também
por Oliveira do Bairro, onde amanhã será prestada uma homenagem aos que
morreram na Guerra Colonial.
No Carregal do Sal, será apresentado hoje o livro
"Aristides, o Semeador de Estrelas", de Ana Cristina Luz, sobre o diplomata
Aristides Sousa Mendes.
Na Amadora, as celebrações abrem-se à comunidade com a
Orquestra Geração, formada por jovens e crianças dos bairros sociais do
concelho, e com um debate sobre banda desenhada, amanhã, com o músico Manuel
Freire.
Fernando Tordo, Carlos Mendes e Filipa Pais protagonizam o
espetáculo "Memorial" em Oeiras. Em vários espaços públicos de Sines serão lidos
textos sobre a revolução de 1974 e o Teatro do Mar realiza a performance
"Re-Evolução".
Ditadura e Revolução no cinema
Os 38 anos da revolução também serão recordados no
cinema.
Amanhã, em Ourém, será exibido "O Cônsul de Bordéus", de
Francisco Manso e João Corrêa sobre o cônsul Aristides Sousa Mendes, no Cartaxo
passará "Capitães de Abril", de Maria de Medeiros, e em São Miguel, nos Açores,
o documentário "Linha Vermelha", de José Filipe Costa, sobre a ocupação popular
em 1975 da herdade Torre Bela.
Em Odivelas, a jornalista Diana Andringa apresentará esta
noite o documentário "Tarrafal - Memórias do Campo da Morte Lenta" e em
Portimão, também hoje, será exibido "48", de Susana de Sousa Dias.
Em Lisboa, a curta-metragem "Antes de amanhã", do
realizador Gonçalo Galvão Teles, produzida pela Fado Filmes, é exibida hoje, às
18h30, no Salão Nobre da Reitoria da Universidade de Lisboa, no âmbito do ciclo
de cinema "Projeções de Abril", sobre filmes que exploram, nas mais variadas
perspectivas, os acontecimentos relacionados com a Revolução de 25 de
Abril.
O filme, baseado no romance "Apuros de um pessimista em fuga", de
Mário de Carvalho, relata 24 horas na vida de Mário, um fotógrafo que se sente
ameaçado e perseguido pela polícia política do antigo regime. O encontro com o
contacto que o levará para o exílio está marcado para o dia 25 (de Abril), às
sete horas da manhã, mas esse novo dia é marcado por incidentes que aos olhos do
protagonista ganham dimensão preocupante, pela simples razão - que desconhece -
de que as coisas vão começar a mudar em Portugal.
Do elenco do filme fazem parte Filipe Duarte, Beatriz Batarda,
Adriano Luz, Albano Jerónimo e Joaquim Leitão. A banda sonora é da autoria de
Bernardo Sassetti.
Música de Zeca Afonso no Parlamento
O Parlamento volta este ano a "celebrar Abril", com sessão
solene, música e portas do Palácio de São Bento, em Lisboa, abertas ao
público.
A sessão solene do 25 de Abril terá início às 10h de amanhã, com
intervenções de todos os grupos parlamentares representados no Parlamento, da
presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves, e do Presidente da
República, Aníbal Cavaco Silva. Durante a sessão, serão projetadas fotografias
inéditas do dia 25 de abril de 1974, do espólio de Miranda Castela.
Paulo de Carvalho irá interpretar "E depois do Adeus", a
canção que às 22h55 de 24 de abril de 1974 constituiu a primeira senha para o
início das operações militares do Movimento das Forças Armadas, que daria
origem à Revolução dos Cravos.
O anúncio da canção ´E depois do Adeus', pelo jornalista João
Paulo Diniz, será também recordado na Sala das Sessões. No final da sessão
solene, o Grupo Coral Etnográfico de Grândola irá interpretar a canção "Grândola
Vila Morena", de Zeca Afonso, que foi a segunda senha para a continuação das
operações militares de Abril.
Pela primeira vez, a partir das 14h30 a presidente da
Assembleia da República "abrirá as portas do público" do Palácio de São Bento,
num "gesto simbólico que sublinha a importância do Parlamento como a casa da
democracia e de todos os portugueses".
Durante toda a tarde, haverá visitas guiadas e livres ao
Palácio de São Bento e um atelier lúdico-pedagógico para os mais novos que, sob
o lema "Dar forma à Liberdade", permitirá a construção de esculturas de
papel.
Ao final do dia, o Grupo de Violinos "Os Paganinus", do
Conservatório Regional de Setúbal, atuará na Sala do Senado.
Já no dia 26 de abril, cerca das 21h45, será recordada a
memória de José Afonso, 25 anos depois da sua morte, com o concerto evocativo
"Cantar Zeca Afonso", que contará com a participação do coro da Assembleia da
República.
25 de Abril em tempo real passo no Facebook
"De 24 para 25 de Abril - emissão histórica em direto" inicia-se
às 22 horas do dia 24 e prolonga-se até à noite de 25, e quem quiser
acompanhá-la apenas terá de se conectar na página do Centro de Documentação 25
de Abril da UC, no Facebook.
"No fundo é pegar na ideia mais ou menos conhecida da
iniciativa do Orson Welles com a guerra dos mundos. No caso do Orson Welles, foi
recriada uma chegada à terra dos marcianos, no nosso caso é uma tentativa de
recuperar o tempo e colocar (no Facebook), como se estivesse a acontecer, um
conjunto de factos que já foram vividos há 38 anos", explica o responsável
daquele centro.
Segundo Rui Bebiano, com esta iniciativa pretendeu-se "fazer
diferente" da "forma ritualizada" de evocação da revolução democrática de 1974,
que "muitas vezes já não é compreendido pelos mais jovens".
Utilizando o acervo disponível no Centro de Documentação 25
de Abril, os cidadãos vão poder acompanhar a noite que mudou Portugal, à imagem
do que se viveu nos seus bastidores, podendo ter acesso aos planos militares,
documentos, fotos, sons e vídeos.
Com base no registo militar das operações no Posto de Comando do
Movimento das Forças Armadas (MFA), propõe-se uma viagem no tempo. Tanto
conversas intercetadas nas redes militares usadas pelas unidades afetas ao
regime, como as conversas telefónicas efetuadas pelas unidades envolvidas no
MFA, bem como os vários momentos marcantes desse dia serão divulgados, ao longo
de 24 horas, numa cronologia em tempo real.
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