2007/04/25 23:38 Judite França
Livro descontrói ideias feitas. E presta homenagem aos militares. Leia a entrevista à autora
Livro descontrói ideias feitas. E presta homenagem aos militares. Leia a entrevista à autora
Multimédia:
Fotografias
Fotografias
A história da Revolução está ainda recheada de mitos. São os mitos de uma Revolução que vai sendo, aos poucos, «desconstruída» para ser de novo edificada. Maria Inácia Rezola apresentou na véspera do 25 de Abril um livro que pretende «desmascarar» episódios e ideias feitas sobre este período fundamental do século XX português.
Depois de se cumprir Abril, e em entrevista ao PortugalDiário, a historiadora, de 39 anos, espera fazer justiça aos militares, ajudar os professores, tornar acessível a todos o período revolucionário, e levantar dúvidas sobre questões já "resolvidas" no senso comum, mas que, por vezes, não passam de ideias preconcebidas.
Em «Mitos de Uma Revolução», Rezola vai às fontes, compara, reúne documentação e ajuda a fazer a história de um tema ainda tão «apaixonado». E lança um apelo a quem viveu e fez história há mais de 30 anos para «falar, contar e deixar esse legado na História que ainda está em construção».
Os mitos de que fala no livro são factos históricos propalados, mas errados?
Há muitos mitos no senso comum e ideias que estão já resolvidas pela historiografia e que, para o comum cidadão, ainda continuam desconhecidas. O grande exemplo desses mitos é considerar que a Revolução foi uma luta entre civis e militares. Isso está longe de ser verdade.
Refere-se ao dia 25 de Abril ou ao período revolucionário?
No 25 de Abril acontece um golpe de Estado que dá lugar a uma Revolução no próprio dia. Um golpe de Estado sem a participação dos partidos políticos...
É um golpe militar apenas.
Sim, claro. Mas a grande questão que se impõe é «como chegámos à democracia?» Sendo uma história de vencedores e vencidos todos querem ser os protagonistas. Regra geral atribui-se a democracia aos partidos políticos, e até se diz qual o partido e o líder político. Mas a verdade é que os militares são fundamentais em todo este processo: começaram por derrubar uma ditadura de mais de quatro décadas e depois acompanharam todo o desenrolar dos acontecimentos. É evidente que há uma importante intervenção dos partidos políticos e até movimentos sociais, mas é graças aos militares que se alcança a democracia, que é depois institucionalizada na Constituição de 1976.
É um bom manual para os professores?
Acho que sim e esse foi um dos grandes objectivos. O problema dos manuais escolares é que são, obrigatoriamente, sintéticos. E por isso podem ser mal interpretados. Além disso, muitos dos professores que hoje ensinam o 25 de Abril nunca o aprenderam nem na escola nem na universidade. Quando são confrontados com este programa sentem enormes dificuldades em encontrar informação e material didáctico que os auxilie. Não será fácil mudar as «verdades instituídas»...
Claro que não. A história maniqueísta é muito mais simples: há os bons e os maus, há os vencedores e os vencidos. É evidente que ainda não se sabe tudo e a história deste período é muito apaixonada: em alguns casos, os protagonistas não explicam o porquê das suas atitudes e noutros querem reaparecer e reescrever a história, surgindo eles como os protagonistas.
Que fontes consultou e quem entrevistou para elaborar este livro?
O período estudado vai até à tomada de posse do General Ramalho Eanes, que, de facto, encerra o ciclo revolucionário. A Revolução termina com o 25 de Novembro - outro dos grandes mitos -, mas o livro segue até aos últimos passos para a normalização democrática. Fiz uma selecção, que partiu da minha tese de doutoramento sobre o Conselho da Revolução, e procurei encontrar elementos representativos de várias tendências. Uma das fontes é o próprio arquivo do Conselho da Revolução. Depois entrevistei Rosa Coutinho, Martins Guerreiro, Saraiva de Carvalho, Costa Martins, Vasco Lourenço... E tentei falar com muitos outros protagonistas, mas não consegui, como foi o caso de Carlos Fabião ou Pinto Soares. A imprensa da época também é uma valiosa fonte de informação.
Sem comentários:
Enviar um comentário