sexta-feira, 26 de outubro de 2007

«Não foi para isto que se fez a Revolução»


Trinta e três anos depois da Revolução dos Cravos «Portugal é cada vez menos de Abril», afirma o coronel Vasco Lourenço, presidente e fundador da Associação 25 de Abril, que domingo celebra 25 anos de existência.
«Se outros indícios não existissem, sem necessidade de constatar os inúmeros retrocessos verificados nos últimos anos, basta-nos olhar para a enorme degradação das relações entre o trabalho e o capital, no que se refere à parte dos salários no rendimento social», disse à Agência Lusa.
«Apesar de a riqueza criada por trabalhador ter crescido 41 vezes, entre 1975 e 2004, a parte dos salários no rendimento nacional desceu, no mesmo período, de 59 por cento para 40 por cento», explicou.
Vasco Lourenço, que ainda hoje lamenta o facto de não ter sido ele a comandar as operações militares do 25 de Abril de 1974, por ter sido transferido compulsivamente para os Açores no mês de Março desse ano, acrescenta: «Francamente não foi para isto que se fez o 25 de Abril».
Sem pôr em causa que o fundamental da revolução foi a conquista da liberdade e democracia e que algum desenvolvimento foi conseguido, a actual situação «tem apresentado vários retrocessos nos últimos anos, principalmente porque a maioria dos órgãos de soberania já perderam um pouco a noção do que foi o 25 de Abril», garante.
Desigualdades sociais aumentaram
«As desigualdades sociais aumentaram, os nossos pobres continuam a aumentar, o aumento do fosso entre ricos e pobres e uma classe média cada vez mais castigada», diagnostica Vasco Lourenço.
«Portugal está desequilibrado em termos de justiça social face aos primeiros anos após o 25 de Abril», defende o militar, que denuncia ainda o «isolamento da classe política-partidária face à população, facto que prejudica a Democracia».
Aliás, o militar é da opinião de que os «partidos políticos em Portugal transformaram-se em agências de emprego» e vai mais longe quando afirma que «as Democracias Europeias caminham alegremente para o abismo, face à falta de ligação entre eleitos e eleitores, fenómenos com a xenofobia e a imigração ilegal, a predominância do capital sobre o trabalho».
«Quando isso surgir vai causar concerteza casos de violência extrema, com movimentações radicais de extractos das populações e com os ressurgimentos de líderes autoritários».
Orgulhoso do seu percurso no estabelecimento da Democracia em Portugal e na fundação da A25A, em 21 de Outubro de 1982, o coronel conclui: «Infelizmente, o 25 de Abril não está hoje na agenda política e só aparece para compor o ramalhete».

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