quarta-feira, 7 de novembro de 2007

A Direcção-Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular (DGIDC), do Ministério da Educação, e as associações 25 de Abril e de Professores de História promovem o concurso Como se vivia em Portugal no período da Guerra Colonial.

Esta iniciativa tem âmbito nacional e é dirigida a alunos do ensino básico (1.º, 2.º e 3.º ciclos) e do ensino secundário.
Consiste na realização de trabalhos de natureza diversa que desenvolvam o interesse pela História de Portugal da 2.ª metade do século XX e contribuam para aprofundar o seu conhecimento.
Privilegia-se a pesquisa e a recolha de memórias junto daqueles que viveram este período histórico ou, de algum modo, participaram ou testemunharam a Guerra Colonial.
Os trabalhos são avaliados por um júri, sendo atribuídos prémios aos três melhores trabalhos de cada um dos escalões a concurso.
Os prémios são atribuídos em sessão pública.
Os interessados devem inscrever-se até 30 de Novembro de 2007 e entregar os trabalhos até 11 de Abril de 2008.
Os vencedores serão anunciados em 12 de Maio e os prémios entregues em 07 de Junho do próximo ano.
Informações adicionais:
- O regulamento do concurso http://sitio.dgidc.min-edu.pt/cidadania/Documents/REGULAMENTO_CONCURSO_GCOLONIAL.pdf - O formulário da candidatura http://sitio.dgidc.min-edu.pt/cidadania/Documents/FICHA_CANDID_CONC_GCOLONIAL.pdf

– O Ministério da Educação e as associações 25 de Abril e de Professores de História assinaram um protocolo de cooperação em 23 de Abril último ( http://www.min-edu.pt/np3/611.html).
Não deixe de visitar:
Sítio da Associação de Professores de História

Sítio da Associação 25 de Abril

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Conselho da Revolução


O Conselho da Revolução foi, de 1975 a 1982, um órgão de soberania, com legitimidade revolucionária e poderes de fiscalização constitucional, mas também ajudou a resolver problemas como o abandono das centrais pelos mecânicos de telefones, escreve a Lusa.
Ao longo de sete anos, todos os assuntos centrais da vida política (e não só) passaram pelas reuniões do CR, constituído por lei de 14 de Março de 1975, na sequência da tentativa de golpe de estado de direita.
O CR era composto pelo Presidente da República, Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas (CEMGFA), chefes militares dos três ramos, o primeiro-ministro (se for militar) e ainda 14 oficiais - oito do Exército, três da Força Aérea e três da Marinha, além dos membros da Junta de Salvação Nacional e Conselho de Estado.
Desde o complicado processo de descolonização de Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé, passando pelo «Caso República» e por todas as crises políticas, golpes e contra-golpes, tudo foi discutido por um órgão concebido como órgão supremo da revolução.
Uma das primeiras decisões foi a nacionalização da banca, dos seguros, das empresas de transportes, mas pelo Conselho da Revolução e pela leitura das suas actas pode saber-se que a 10 de Abril de 1975 aprovou o salário mínimo de 4.000 escudos (20 euros) e 15 dias de férias pagas para os trabalhadores.
A 30 de Março de 1975, no regresso de uma visita à URSS, o ministro do Trabalho, Costa Martins, relatou «a opinião expressa pela União Soviética de que Portugal se deveria manter a todo o custo na NATO».
A 24 de Abril, é a vez do Presidente da República afirmar ao conselho que o secretário de Estado norte-americano, Henry Kissinger, «estava obcecado com o perigo comunista ou neutralista da revolução portuguesa».
O mesmo Costa Gomes que, a 2 Julho, relatava a estranheza expressa por um dirigente da URSS que «não compreendia muito bem a exibição de fitas pornográficas em cinemas portugueses».
Próprias de um país em revolução foram as preocupações a 21 de Maio com «a situação das reivindicações irrealistas dos mecânicos de telefones, que originou o abandono das centrais telefónicas durante a noite».
A solução, segundo a acta, foi Otelo Saraiva de Carvalho, comandante do COPCON, requisitar técnicos para permanecerem centrais durante a noite.
Dramática foi a decisão, em 1978, do general Ramalho Eanes, já Presidente da República, depois de informar os conselheiros de rumores sobre planos de um atentado contra as personalidades que assistissem ao desfile do 25 de Abril. E que não passaram disso mesmo - rumores.
Eanes propunha-se deixar assinados dois decretos: «Um para o caso de ser a sua pessoa vítima do atentado, nomeando o almirante Souto Cruz CEMGFA; outro, para o caso ser também vitimada a pessoa de Souto Cruz, nomeando CEMGFA o general Lemos Pires».
As actas, assim como outra documentação do CR, está depositada na Torre do Tombo desde 1982 e a revelação de parte das actas foi feita, em 1995, entre outros, pelo semanário «Tal e Qual».
O que foi o Copcon?
COPCON - Comando Operacional do Continente, estrutura de comando militar para Portugal continental (enquadrado no Estado-Maior General das Forças Armadas) criada pelo MFA no período que se seguiu à revolução de 25 de Abril de 1974 e extinta após o 25 de Novembro de 1975. Na prática coincidiu também com o comando da Região Militar de Lisboa.
O CASO «REPÚBLICA»(Comunicado do COPCON -18/6/75)Recebeu este comando um comunicado assinado por sete jornalistas da Redacção do «República», que, pelo seu conteúdo demagógico e difamatório, nos merece as seguintes considerações:1 - Está redigido numa linguagem nitidamente direitista, custando a crer ter sido escrita por elementos que se dizem socialistas e que estão com a Revolução.Dirigem-se com mágoa (!) aos militares do Copcon, assumindo demagogicamente o papel de vítimas.2 - Os comunicados de um órgão revolucionário como o Copcon, pela sua límpida verdade, nada têm de comum com os comunicados oficiais do antigo regime. Sugerir uma identificação entre uns e outros é caluniar o braço armado do M. F. A., decidida e reconhecidamente comprometido perante as massas populares na vanguarda do processo revolucionário em curso.3 - O comunicado dos jornalistas do «República» é uma forma da liberdade de expressão só possível após o 25 de Abril, embora seja um deliberado ataque a um órgão revolucionário, que, mais pelos seus actos do que pelas suas palavras, quotidianamente tem vindo a demonstrar, inequivocamente, de que lado se encontra.4 - Ao exprimirem-se em identificação com o povo português, estão os jornalistas do «República» a utilizar abusivamente algo que não lhes pertence. Falam, sim, em nome de uma minoria de trabalhadores de uma empresa que quer, a todo o custo, defender os seus interesses burgueses de classe que os opõe aos interesses da classe operária - historicamente a mais explorada.5 - O oficial delegado do COPCON presente no «República» garantiu o cumprimento das decisões do Conselho da Revolução e da Lei de Imprensa, tendo sido a administração quem repudiou aquela garantia. Quanto ao sr. Belo Marques, podemos afirmar que o mesmo acordara com a administração a sua demissão após um período de licença, a iniciar em 19 de Maio, o que não se chegou a efectivar.6 - O COPCON não fez o papel de Pilatos, antes pelo contrário enviou para o local dois oficiais seus delegados com a missão de garantir o direito ao trabalho e o cumprimento do que fora estabelecido.7 - Os inimigos da liberdade de expressão são aqueles que não respeitam a opinião pública, deturpando ou seleccionando a Informação de acordo com os seus interesses partidários que põem acima dos interesses das classes trabalhadoras.8 - A luta dos trabalhadores do «República» é uma luta desencadeada por aqueles que estão interessados em evitar que um jornal tradicionalmente antifascista e independente se vincule cada vez mais a uma linha partidária. Quem conheça esta luta por dentro constata facilmente que não há assaltos ao «República» por parte de partidos contrários ao que define a orientação do jornal. Aliás, os próprios trabalhadores afirmaram na altura, que não teriam qualquer problema se no cabeçalho do jornal fosse impressa a indicação de ser o mesmo um órgão partidário.9 - informados pelo COPCON de que a desselagem das portas do «República», por despacho do comandante-adjunto sobre requerimento apresentado pelos interessados, só poderia vir a ter lugar no dia 16 a administração, direcção e redacção do «República» «reclamavam» que a reabertura se fizesse mediante certas condições. O COPCON considerou que não aceitaria condições que fossem diferentes das já anteriormente combinadas e que o documento apresentado não obrigava, de forma alguma, a uma resposta por escrito, tendo esta sido dada verbalmente pelo oficial delegado.10 - O COPCON chamou a si a responsabilidade da resolução de um problema que se encontrava num impasse, procurando obter a todo o transe uma solução justa e exequível. Acresce que o COPCON percebe perfeitamente tudo o que se passa e assim tem de acontecer para formas de actuação justas, sendo raras as ocasiões em que nos têm restado margens para dúvidas.11 - No comunicado fala-se em «trabalhadores dissidentes», pretendendo apresentá-los como uma minoria, quando no estudo cuidado do conflito nos aparecem os «dissidentes» como a totalidade da empresa e que constituem a esmagadora maioria.12 - No dia 12, o sr. Belo Marques não apareceu sequer à abertura do jornal, pois entraria de férias, regressando-se à situação que vigorava em 18 de Maio, conforme o que fora estipulado com o Conselho da Revolução.13 - A administração, que se havia comprometido, perante o Conselho da Revolução, ao pagamento dos 10 dias de salário (de 20 a 30 de Maio) aos trabalhadores, recusou-se na data da abertura a tal pagamento, remetendo o assunto «para o que as leis em vigor determinarem», contrariando flagrantemente o compromisso anteriormente assumido.14 - Ao referir que requereu ao COPCON a não desselagem, a administração falseia a verdade, pois o que aconteceu foi ter entregue neste comando um documento inaceitável em que «não autorizava a reabertura das instalações», isto duas horas depois de o jornal ter sido desselado com o conhecimento da administração.15 - O COPCON considera muito estranho o facto de no fim do seu comunicado, os jornalistas do «República» invocarem a sua disposição de contribuir de forma decisiva para o cumprimento da legalidade revolucionária, quando ao longo de todo o texto não terem feito outra coisa senão mencionar o cumprimento da Lei de Imprensa, já considerada largamente ultrapassada pelos órgãos mais responsáveis, a que o COPCON se junta em uníssono, e o cumprimento das leis vigentes para o pagamento dos 10 dias de trabalho. Falar em legalidade revolucionária (que o COPCON não utilizou, note-se, no caso «República») é demasiado arriscado e grotesco para um órgão como este, cuja extraordinária implantação junto das massas populares deriva disso mesmo.16 - O respeito pela opinião pública não se consegue passando-lhe gato por lebre, isto é, servindo-lhe como jornal independente um órgão de Imprensa descaradamente partidário. 17 - Mais por actos do que por palavras, o COPCON tem vindo a demonstrar, ao longo do processo, o intenso desejo de participar na construção de uma sociedade socialista não totalitária em Portugal.18 - Quanto ao panfleto que circulou com o título «A República foi assaltada», duvidamos que tivesse sido realmente obra dos jornalistas do «República», pois o tom panfletário e ofensivo em que e escrito é de tal ordem que não nos merece resposta.
Os Oficiais de Abril
LOPES PIRES: Nuno Manuel Guimarães Fisher Lopes Pires, nascido em Santarém no ano de 1936, oficial de engenharia, foi um dos membros da equipa que, na Pontinha, comandou o movimento insurreccional. Era o militar do Exército de maior patente entre os presentes: tenente-coronel. Durante o processo revolucionário de 1974/75 chegaria a ser graduado em General.
SANCHES OSÓRIO: José Eduardo Fernandes de Sanches Osório nasceu em Lisboa a 2 de Dezembro de 1940 e foi participante muito activo na Revolução. Integrou o grupo de seis oficiais do MFA que ocupou o posto de comando na Pontinha, sendo major à data. Formado em Engenharia Militar foi posteriormente director-geral da Informação e Ministro da Comunicação Social.
OTELO SARAIVA DE CARVALHO: Otelo Nuno Romão Saraiva de Carvalho, major, nasceu em Lourenço Marques (Maputo) a 31de Agosto de 1936, foi autor do plano operacional e, a partir do Regimento de Engenharia da Pontinha, dirigiu a ofensiva que derrubou o regime fascista. Nas palavras de Eduardo Lourenço, Otelo será aquele que passará à história como o herói epónimo dessa Revolução incruenta.
GARCIA dos SANTOS: Amadeu Garcia dos Santos nasceu em Lisboa em 1936, major, constituiu com Otelo os cérebros operacionais da revolta. A partir de 24 de Abril de 1974 integrou o posto de comando do MFA. Era professor catedrático da Academia Militar e desempenhou o cargo de Secretário de Estado das obras públicas do I Governo Provisório de Vasco Gonçalves.
VÍTOR CRESPO: Vítor Manuel Trigueiros Crespo é natural de Porto de Mós onde nasceu em 1932. Prestigioso comandante da Armada, foi o único dos que comandavam na Pontinha que não integrava o posto de comando. A Armada encontrava-se bem representada neste ponto-chave. Foi alto-comissário em Moçambique até à descolonização, Ministro da Cooperação e membro do Conselho da Revolução.
SALGUEIRO MAIA: Fernando Salgueiro Maia foi, talvez o oficial mais em foco no dia 25 de Abril de 1974 invadindo Lisboa com a sua coluna da Escola Prática de Cavalaria, ocupando o Terreiro do Paço e cercando o quartel-general da GNR no Largo do Carmo onde se havia refugiado Marcello Caetano. Homem de grande coragem e sem ambição pessoal, havia de ser punido pela sua heroicidade.
MELO ANTUNES: Ernesto Augusto Melo Antunes nasceu em Lagoa em 1933, major culto, idealista, foi considerado ideólogo do MFA e o principal autor do documento O Movimento das Forças Armadas e a Nação e do programa do MFA. Foi Ministro dos Negócios Estrangeiros durante os Governos Provisórios e o primeiro subscritor do Documento dos Nove no Verão quente de 1975.
EURICO CORVADO: Nascido em Moncorvo foi, aos 35 anos, juntamente com Carlos Azeredo, o homem mais importante na acção das tropas da revolta no Porto e na região Norte do país. Major da Artilharia assumiu o comando das operações do MFA na madrugada de 25 de Abril. Foi ele o primeiro a alertar a população para a existência da contra-revolução.
JOSÉ MANUEL COSTA NEVES: Nasceu nas Caldas da Rainha em Outubro de 1940 e foi um dos grandes vultos do MFA. Foi este engenheiro aeronáutico que comandou os militares que viriam a ocupar o Rádio Clube Português que se transformou numa emissora de comando do MFA. Era a ele que estava destinada a leitura dos comunicados do movimento, mas acabou por não ser necessário pois Joaquim Furtado aderiu rapidamente à Revolução.
JOSÉ INÁCIO COSTA MARTINS: Capitão piloto nascido em Messines, Silves, em 1938, foi crucial no comando das forças que tomaram de assalto o Aeroporto da Portela (Lisboa) e o Aeródromo Base nº1 de Lisboa. António Spínola convidou-o, a 31 de Maio de 1974, a desempenhar as funções de membro do Conselho de Estado, tendo mesmo chegado a Ministro do Trabalho nos Governos seguintes.
CARLOS ALBERTO IDÃES FABIÃO: Alfacinha nascido em 1930, foi um tenente-coronel essencial quer antes quer depois do golpe de Estado de 25 de Abril. Também seguidor do MFA, teve a ousadia de denunciar publicamente, em Dezembro de 1973, uma contra-revolução que estava a ser preparada por quatro generais da ditadura. Isto obrigou-o a transferir-se para Braga, onde permaneceu com residência vigiada.
Dirigiu as forças revolucionárias a partir de Cova de Moura.
Homem culto, exerceu o cargo de comandante-chefe na Guiné e em 1975 foi Chefe do Estado-Maior do Exército. Recebeu convite para integrar o IV Governo Provisório, proposta que recusou.
VASCO CORREIA LOURENÇO: Natural da Lousã, Castelo Branco, onde nasceu a 19 de Junho de 1942, integrou a Comissão Coordenadora do MFA e é figura de destaque do Movimento dos capitães. Foi Governador Militar de Lisboa e Comandante da Região Militar de Lisboa de 1975 a 1978.
Descoberto como um dos conspiradores contra o regime, enfrentou a prisão de 10 a 15 de Março de 1974 na Trafaria, seguindo daí para os Açores onde permanecia quando rebentou a rebelião de 25 de Abril.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

«Não foi para isto que se fez a Revolução»


Trinta e três anos depois da Revolução dos Cravos «Portugal é cada vez menos de Abril», afirma o coronel Vasco Lourenço, presidente e fundador da Associação 25 de Abril, que domingo celebra 25 anos de existência.
«Se outros indícios não existissem, sem necessidade de constatar os inúmeros retrocessos verificados nos últimos anos, basta-nos olhar para a enorme degradação das relações entre o trabalho e o capital, no que se refere à parte dos salários no rendimento social», disse à Agência Lusa.
«Apesar de a riqueza criada por trabalhador ter crescido 41 vezes, entre 1975 e 2004, a parte dos salários no rendimento nacional desceu, no mesmo período, de 59 por cento para 40 por cento», explicou.
Vasco Lourenço, que ainda hoje lamenta o facto de não ter sido ele a comandar as operações militares do 25 de Abril de 1974, por ter sido transferido compulsivamente para os Açores no mês de Março desse ano, acrescenta: «Francamente não foi para isto que se fez o 25 de Abril».
Sem pôr em causa que o fundamental da revolução foi a conquista da liberdade e democracia e que algum desenvolvimento foi conseguido, a actual situação «tem apresentado vários retrocessos nos últimos anos, principalmente porque a maioria dos órgãos de soberania já perderam um pouco a noção do que foi o 25 de Abril», garante.
Desigualdades sociais aumentaram
«As desigualdades sociais aumentaram, os nossos pobres continuam a aumentar, o aumento do fosso entre ricos e pobres e uma classe média cada vez mais castigada», diagnostica Vasco Lourenço.
«Portugal está desequilibrado em termos de justiça social face aos primeiros anos após o 25 de Abril», defende o militar, que denuncia ainda o «isolamento da classe política-partidária face à população, facto que prejudica a Democracia».
Aliás, o militar é da opinião de que os «partidos políticos em Portugal transformaram-se em agências de emprego» e vai mais longe quando afirma que «as Democracias Europeias caminham alegremente para o abismo, face à falta de ligação entre eleitos e eleitores, fenómenos com a xenofobia e a imigração ilegal, a predominância do capital sobre o trabalho».
«Quando isso surgir vai causar concerteza casos de violência extrema, com movimentações radicais de extractos das populações e com os ressurgimentos de líderes autoritários».
Orgulhoso do seu percurso no estabelecimento da Democracia em Portugal e na fundação da A25A, em 21 de Outubro de 1982, o coronel conclui: «Infelizmente, o 25 de Abril não está hoje na agenda política e só aparece para compor o ramalhete».

É altura de desmascarar os mitos da Revolução


2007/04/25 23:38 Judite França

Livro descontrói ideias feitas. E presta homenagem aos militares. Leia a entrevista à autora



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A história da Revolução está ainda recheada de mitos. São os mitos de uma Revolução que vai sendo, aos poucos, «desconstruída» para ser de novo edificada. Maria Inácia Rezola apresentou na véspera do 25 de Abril um livro que pretende «desmascarar» episódios e ideias feitas sobre este período fundamental do século XX português.
Depois de se cumprir Abril, e em entrevista ao PortugalDiário, a historiadora, de 39 anos, espera fazer justiça aos militares, ajudar os professores, tornar acessível a todos o período revolucionário, e levantar dúvidas sobre questões já "resolvidas" no senso comum, mas que, por vezes, não passam de ideias preconcebidas.
Em «Mitos de Uma Revolução», Rezola vai às fontes, compara, reúne documentação e ajuda a fazer a história de um tema ainda tão «apaixonado». E lança um apelo a quem viveu e fez história há mais de 30 anos para «falar, contar e deixar esse legado na História que ainda está em construção».
Os mitos de que fala no livro são factos históricos propalados, mas errados?
Há muitos mitos no senso comum e ideias que estão já resolvidas pela historiografia e que, para o comum cidadão, ainda continuam desconhecidas. O grande exemplo desses mitos é considerar que a Revolução foi uma luta entre civis e militares. Isso está longe de ser verdade.
Refere-se ao dia 25 de Abril ou ao período revolucionário?
No 25 de Abril acontece um golpe de Estado que dá lugar a uma Revolução no próprio dia. Um golpe de Estado sem a participação dos partidos políticos...
É um golpe militar apenas.
Sim, claro. Mas a grande questão que se impõe é «como chegámos à democracia?» Sendo uma história de vencedores e vencidos todos querem ser os protagonistas. Regra geral atribui-se a democracia aos partidos políticos, e até se diz qual o partido e o líder político. Mas a verdade é que os militares são fundamentais em todo este processo: começaram por derrubar uma ditadura de mais de quatro décadas e depois acompanharam todo o desenrolar dos acontecimentos. É evidente que há uma importante intervenção dos partidos políticos e até movimentos sociais, mas é graças aos militares que se alcança a democracia, que é depois institucionalizada na Constituição de 1976.
É um bom manual para os professores?
Acho que sim e esse foi um dos grandes objectivos. O problema dos manuais escolares é que são, obrigatoriamente, sintéticos. E por isso podem ser mal interpretados. Além disso, muitos dos professores que hoje ensinam o 25 de Abril nunca o aprenderam nem na escola nem na universidade. Quando são confrontados com este programa sentem enormes dificuldades em encontrar informação e material didáctico que os auxilie. Não será fácil mudar as «verdades instituídas»...
Claro que não. A história maniqueísta é muito mais simples: há os bons e os maus, há os vencedores e os vencidos. É evidente que ainda não se sabe tudo e a história deste período é muito apaixonada: em alguns casos, os protagonistas não explicam o porquê das suas atitudes e noutros querem reaparecer e reescrever a história, surgindo eles como os protagonistas.
Que fontes consultou e quem entrevistou para elaborar este livro?
O período estudado vai até à tomada de posse do General Ramalho Eanes, que, de facto, encerra o ciclo revolucionário. A Revolução termina com o 25 de Novembro - outro dos grandes mitos -, mas o livro segue até aos últimos passos para a normalização democrática. Fiz uma selecção, que partiu da minha tese de doutoramento sobre o Conselho da Revolução, e procurei encontrar elementos representativos de várias tendências. Uma das fontes é o próprio arquivo do Conselho da Revolução. Depois entrevistei Rosa Coutinho, Martins Guerreiro, Saraiva de Carvalho, Costa Martins, Vasco Lourenço... E tentei falar com muitos outros protagonistas, mas não consegui, como foi o caso de Carlos Fabião ou Pinto Soares. A imprensa da época também é uma valiosa fonte de informação.

Democracia está «pelas ruas da amargura»


O coronel Vasco Lourenço, presidente da Associação 25 de Abril, afirmou terça-feira à noite, em Coimbra, que a «democracia participativa está pelas ruas da amargura» e acusou os partidos de estarem transformados em agências de emprego, noticia a Lusa.
Vasco Lourenço, um dos militares da Revolução de Abril, falava no debate subordinado ao tema «Retomar Abril», promovido pela delegação regional da Associação, que reuniu cerca de meia centena de pessoas.
Para o presidente da Associação 25 de Abril, fundada em 1982, «há um défice de democracia participativa extraordinariamente grande», por causa da luta «entre os partidos políticos que querem o monopólio da democracia representativa».
«Numa democracia como a nossa, os partidos são insubstituíveis, é evidente, mas infelizmente democracia não é partidocracia», observou o militar de Abril. «E o que nós temos visto é uma tendência para transformar a democracia em Portugal em partidocracia, com a generalidade dos partidos a transformarem-se em agências de emprego em vez de defensores dos interesses do cidadão», acrescentou.
«Eu sou daqueles que não está seguro de que a liberdade e a democracia uma vez conquistadas estejam absolutamente garantidas», afirmou Vasco Lourenço, referindo que, ao longo da História, «há quem saque a liberdade aos outros para ficar com ela».

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Adriano Correia de Oliveira recordado hoje, nos 25 anos da sua morte


Adriano Correia de Oliveira é hoje recordado em Lisboa, 25 anos depois da sua morte, com um espectáculo onde vários artistas seus contemporâneos recordam as trovas que eternizaram o cantor de intervenção.
Na Sociedade Voz do Operário, em Lisboa, José Fanha, Carlos Paulo e Maria do Céu Guerra vão ler poemas que Adriano Correia de Oliveira cantou e vai ser inaugurada uma exposição sobre o músico e decorrerá um colóquio para debater a vida e obra de Adriano com a participação de Luís Cília, José Barata-Moura, Lopes de Almeida, Paulo Sucena e José Viale Moutinho. No dia 20, no mesmo local, decorrerá o espectáculo "25 anos - 25 canções", que contará com a presença, entre outros, de Amélia Muge, Fausto, Fernando Tordo, Brigada Victor Jara, o padre Francisco Fanhais, Manuel Freire, Janita Salomé, Luís Represas, Pedro Abrunhosa, Paulo Carvalho e um grupo de guitarra e cantares de Coimbra. Serão 25 das mais emblemáticas canções, de um total de cerca de 90, que Adriano Correia de Oliveira cantou e gravou entre 1960 e 1980, entre as quais "Trova do vento que passa", "Balada da esperança", "Menina dos olhos tristes", "Tejo que levas as águas" ou "Canção do linho". Em Setembro saiu o disco tributo "Adriano aqui e agora", com 14 canções renovadas à luz de músicos provenientes do rock, da pop, da electrónica ou do hip hop, como Ana Deus e os Dead Combo, que interpretam "Trova do vento que passa", os Cindy Cat com "E alegre se fez triste" e Margarida Pinto, dos Coldfinger, que canta "Charamba". Vicente Palma, filho de Jorge Palma, estreia-se com "Para Rosalía" e Sharyar Mazgani, dos Mazgani, mostra a sua visão de "Balada da esperança". São 14 novas aproximações à obra daquele que é considerado, a par de José Afonso, uma das vozes maiores do canto de intervenção e da balada. Numa toada mais próxima da música de raiz tradicional, este ano saiu ainda o disco "Cantaremos Adriano", protagonizado por um grupo de sete músicos portugueses de diferentes projectos musicais. No álbum, os sete músicos cantam 12 temas imortalizados por Adriano e os inéditos "Eu Vi Abril" ( Manuel Alegre/Vitor Sarmento) e "As Palavras do meu Canto" (Joaquim Pessoa/Vitor Sarmento). Para desfrutar de todos os temas interpretados pelo próprio Adriano Correia de Oliveira, o jornal Público lança a partir de hoje uma série de sete discos com a obra completa do cantautor, coordenada por José Niza. Esta série revelará os diferentes momentos musicais de Adriano Correia de Oliveira, dos fados de Coimbra à balada e à canção de intervenção. Cada um dos discos sairá acompanhado por um livro que reúne dados biográficos, depoimentos e entrevistas de pessoas que trabalharam e conheceram Adriano Correia de Oliveira. Intervir pela música
O cantautor nasceu no Porto a 9 de Abril de 1942 e morreu a 16 de Outubro de 1982 em Avintes. Foi em Coimbra, para onde rumou para estudar Direito, que se abriram as portas para a intervenção política, social e cultural. Passou pelo Orfeão Académico de Coimbra e editou o primeiro disco, "Noite de Coimbra", em 1960. Já militante do PCP, participou activamente nas lutas académicas de contestação ao regime político, facto que, a par da guerra colonial, da censura e da emigração, passou a ser referido nas músicas que cantava. Antes e depois da revolução de Abril de 1974, Adriano Correia de Oliveira viveu tempos de intensa actividade interventiva no meio musical e cultural, gravando "Trova do vento que passa" ou "O canto e as armas", com versos de Manuel Alegre. Dele se diz que era generoso, corajoso e solidário. Morreu com 40 anos vítima de um acidente vascular esofágico.

CONTRA A POBREZA

Recordar uma das vozes da resistência




CD/DVD lançado por ocasião dos 25 anos da morte de Adriano Correia de Oliveira
Tinha apenas 40 anos quando morreu mas deixou uma obra marcante ao nível da música de intervenção. Adriano Correia de Oliveira era dono de uma voz poderosa e acreditava que as palavras são armas. Um CD de tributo apresenta, agora, versões da sua obra por 14 vozes da nova geração de músicos portugueses. O DVD que o acompanha dá voz aos que com ele conviveram.


Isabel Marques da Silva

Jornalista

Primeiro com fado de Coimbra, depois com baladas de amor e trovas de intervenção política, Adriano Correia de Oliveira tornou-se uma das vozes mais marcantes dos anos 60 e 70. Morreu com apenas 40 anos, a 16 de Outubro de 1982, mas deixou uma obra que anda de mãos dadas com a história da resistência ao regime fascista. "Trova do vento que passa", hino do movimento estudantil, é um passaporte para um tempo em que as palavras ganhavam asas e cujos ecos ainda hoje se fazem sentir."Pode dizer-se que algumas peças musicais fazem o retrato de um certo Portugal social, mas não ficaram presas no tempo. "Trova do vento que passa" é intemporal e universal. Dizer "há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não" é um código de ética e de comportamento válido em qualquer país ou qualquer época", disse à SIC Henrique Amaro, locutor de rádio e director artístico do projecto.Contudo, há uma geração mais nova que tem pouco contacto com este legado, embora possa conhecer nomes contemporâneos de Adriano que ainda hoje estão activos, tais como Sérgio Godinho, José Mário Branco ou Fausto. O CD/DVD "Adriano Aqui e Agora. O tributo", hoje lançado pela Movieplay, pretende fazer essa pedagogia, mas abrir também portas para que jovens músicos passem a ser conhecidos de uma geração mais velha."Nunca quisemos declacar a obra de Adriano, mas fazer uma ponte. O objectivo do disco só será alcançado em toda a plenitude se houver uma nova geração que ao ouvir estas versões se sinta interessada em ir em busca do original. Por outro lado, há uma geração mais velha que conhece muito bem o Adriano e que por causa deste disco de versões terá contacto com novas vozes", explicou Henrique Amaro. Diversos registos e experiênciasTim, Ana Deus e os Dead Combo, Raquel Tavares, Cindy Cat, Celina de Piedade, Micro Audio Waves, Shahryar Mazgani, Vicente da Palma, Miguel Guedes, Margarida Pinto, Nuno Prata, Sebastião Antunes, Valete e Pedro Laginha foi o casting escolhido para o projecto."Queria ter vozes diversas, com registos que vão do tradicional à electrónica. Mas tive também a preocupação de as balizas temporais incluírem a geração de pessoas como o Tim, cuja banda Xutos e Pontapés tinha três ou quatros de actividade quando o Adriano morreu; até ao Vicente Palma, filho do Jorge Palma, que gravou pela primeira vez em estúdio ao participar no projecto", afirma Henrique Amaro. Cada um dos artistas teve liberdade para escolher o tema que queria interpretar e quase todos ouviram na íntegra os discos de Adriano para seleccionar a canção com que mais se identificavam. Um exercício que serviu para melhor compreender a importância musical, política e histórica do canta-autor."Era uma referência muito grande na época e eu ouvia-o, pelo que não consegui desligar-me disso e fazer algo completamente novo. Mas seja qual for o arranjo, o que dá alma a um tema é a mensagem", disse Tim, que canta "Tejo que levas as águas"."Acredito que a música muda a vida das pessoas", é a convicção de Vicente Palma, que interpretou "Para Rosalía". "A interpretação de Adriano Correia de Oliveira tem sempre uma carga dramática muito forte. Ele faz parte de uma herança cultural muito importante que por vezes é pouco conhecida", admite Margarida Pinto, que cantou "Charamba"."O arranjo original já era muito à frente. Tinha harmonias e esquemas rítmicos arrojados", avalia Celina da Piedade, que escolheu "Tu e eu meu amor".""Sou barco" é o tema que poderia ter feito a ponte para um Adriano menos standard do que aquele que conhecemos, mas ele morreu apenas com 40 anos", refere Miguel Guedes.
DVD com depoimentos
Estes e outros depoimentos estão contidos no DVD que acompanha o CD. Na primeira parte do documentário, com o título "O Homem", foi montada uma sequência de fotografias de Adriano Correia de Oliveira para intercalar depoimentos de quem o conheceu."Acima de tudo era uma pessoa fraterna e sempre preocupada com os outros", recorda a filha, Isabel Correia de Oliveira."Dava-se com toda a gente do cinema e do teatro, com poetas e jornalistas. Gostava de ir à noite para os bares falar com eles. Tinha uma grande alegria de viver e criava muitos amigos. Tinha também grande capacidade de comunicação com o público", refere o compositor José Niza."Eram espectáculos camuflados, com mensagem de esquerda e revolucionária, mas tínhamos de dourar a pílula para que a censura deixasse", recorda o músico Rui Pato."Foi o primeiro que cantou versos proibidos. Penso que ele foi o mais corajoso de todos. Antes de qualquer outro cantou canções que punham claramente em causa o regime, que falavam de liberdade e do maior tabu de todos - a guerra colonial", diz o poeta/deputado Manuel Alegre.

terça-feira, 25 de setembro de 2007

A Maledicência



Maledicência
18:44 Quarta-feira, 12 de Set de 2007- Jornal Expresso



Desde o tempo dos Gregos e dos Romanos, existiu sempre a maledicência - acto de dizer mal - que em muitas situações é muito salutar, até porque faz repensar actos incorrectos praticados ou até desvios de trajectória péviamente definidas - claro que desde que não se entre pela baixeza, por actos pessoais, que muitos ainda gostam de usar - e até serve a todos e individualamente como uma certa catarse.
Trata-se de algo fácil de fazer, por vezes até demasiado facilitado, mas desde que dentro dos tais limites adequados, trata-se de algo, como todos sentimos, cada vez mais necessário. E como não é só hoje que existe uma certa cultura de maledicência, dado sempre ter existido. Quem não gosta de criticar o seu vizinho do lado, por deixar sempre a porta aberta, por estacionar mal a viatura, por falar alto nos corredores? quem não gosta de criticar o chefe pela forma agressiva como muitas vezes se dirige ao subordinado, por muitas vezes não querer aceitar opiniões, só a sua valer? e por aí adiante, se bem que em regimes ditatoriais, a maledicência seja muitíssimo limitada, e com o risco de atentado à própria sobrevivência de quem se atreve a fazê-lo.
Em democracia e dentros de limites aceitáveis, dizer mal, trata-se de algo inerente ao próprio sistema, e que contrabalança certas tendências, porventura menos convenientes ou piores aceites, por quem em determinada altura tem mais poder. Sendo que, com a salutar rotatividade de quem vai detendo o dito poder, a maledicência faz também essa rotatividade, dado que como é evidente, por norma diz-se mal de quem está mais acima, de quem tem mais poder, de quem tem mais visilbilidade e não o inverso, sendo evidente que muito raramente, quem quer que seja, gosta que digam mal dos seus actos, das suas frases, dos seus raciocínios, é humano que assim seja.
Os menos jovens, ainda nos lembramos, que antes do 25 de Abril de 1974, havia a censura aberta e declarada, com a figura do censor, de lápis vermelho, que a nível de imprensa escrita cortava todas as notícias que dissessem mal do regime instituído, e que muitas vezes nem percebendo bem o que faziam deixava passar notícias que deveriam ser cortadas, e outras eram sem motivo sancionadas, e a nivel de rádio e televisão a norma era exactamente a mesma. Supõe-se que isso são tempos idos, numa altura, em que muitos, não só no nosso país, mas também pelo mundo foram, falam em democracia musculada, que não será de modo algum ditadura, mas que imporá lentamente alguma regras de conduta a situações abertas de mal dizer, o que será sempre negativo.
Sabemos que a liberdade, por vezes já vai sendo uma pouco "diminuída", quer porque se tem receio - e muitas vezes justificado - de ataques que possam colocar em causa a sobrevivência de todos nós, como já aconteceu nos EUA, no Reino Unido e em Espanha, o que implicitamente faz com que sejamos necessáriamente todos mais vigiados, mais controlados, quer com camaras de vigilância à descrição, como é o caso de Londres, quer com escutas telefónicas, por vezes demasiado abrangentes, mas isto pode ser considerado até como fruto da globalização da própria sociedadade da informação e do conhecimento.
Quanto à maledicência quase diária, e que existe em todos os países civilizados da Europa e não só, desde que não exagerada é mais que necessária, sendo evidente que quem o faz, deve estar sempre bem fundamentado, e deve ter sempre hipotese, se necessário de poder provar tudo o que critica, porque dizer mal só por belo prazer, nem pensar, porque trata-se não de liberdade de pensamento e de expressão, mas de falta de bom senso. Assim, temos qe assumir, que este dizer mal, que por vezes a tantos ofende, já vem de trás, tem milhares de anos, e se não nos colocarem uma mordaça, ou em situações de total desconforto, e dentro dos tais limites de bom senso e de respeito, deverá continuar a existir, e ninguém se pode ofender por tal acontecer, como já referido estamos a falar de assuntos não de caracter pessoal, não intímos, que só aos próprios e suas famílias dirá respeito, como p.e. o caso de Bill Clinton e da sua estagíária, que em nada afectou o seu bom desempenho como presidente americano, veja-se o que hoje faz no governo do actual mais influente país do mundo de tão desastroso Bush, e supostamente não tem estagiárias, com que se comporte de forma que a opinião pública assuma de incorrecta, sendo que o que interessa é que a pessoa exerça devidamente o seu cargo, evidentemente com correcção e sem depravação, e isso foi o que soube bem fazer Clinton.
Pelo que, a maledicência, servindo de catarse, de desabafo, de forma de apontar o que se assume como mal feito ou menos bem feito deve ser algo que sempre tem que existir, não tenhamos quaisquer dúvidas. Poderemos em certas alturas, até referir alguns aspectos de bem dizer, quando os de mal dizer não se sobrepõe áqueles, o que porventura poderá não estar a acontecer neste momento, mas não tenhamos dúvidas, que temos também alguns motivos para bem dizer, se bem que prevalecem os outros. Pelo que, dentro das regras de boa conduta, de respeito interpessoal, temos que ter sempre o direito, fundamentado, de mal dizer, de discordar, de opinar, dado que muitas vezes críticas, essencialmente construtivas, são necessárias, e até ajudam a quem está muito obcecado com determinado percurso, que não consegue vislumbrar outro, que até pode ser melhor causando menos danos colaterais.
Esperemos, poder continuar a usar a maledicência, como forma de sabermos qual a diferença de viver em democracia ou em ditadura, até de certa forma como um acto de de cidadania, de nos interessarmos pelo que nos afecta directa ou indirectamente, como meio de dar sugestões, porque ao dizermos mal de algo, temos ou devemos sugerir uma alternativa, se não entramos única e simplesmente num jogo disparatado e desnecessário de palavras ocas e sem sentido.

A luta final de Che


Nas selvas da Bolívia, o revolucionário argentino de alma cubana morreu isolado, doente, faminto e maltrapilho. Mas fiel aos princípios revolucionários em que acreditava.

á era tarde da noite de 3 de novembro de 1966 quando o diplomata Adolfo Mena González, de 38 anos, calvo e barrigudo, chegou ao aeroporto de La Paz, na Bolívia. Cansado da longa viagem - havia passado por Moscou, Praga, Viena, Frankfurt, Paris, Madri e São Paulo, como mostrava seu passaporte uruguaio -, declarou aos fiscais da imigração que pretendia levantar dados para a Organização dos Estados Americanos. Liberado, seguiu para o centro da capital, onde se hospedou numa suíte do Hotel Copacabana. Ali conheceu os irmãos bolivianos Guido e Roberto Peredo e com eles partiu de avião para Cochabamba, a 800 quilômetros de La Paz. Depois de mais três dias de viagem de jipe, chegou às margens do rio Ñancahuazú. Em 7 de novembro, escreveu em seu diário: "Hoje começa uma nova etapa". Só então revelou sua verdadeira identidade: González era, na verdade, o guerrilheiro Ernesto Che Guevara.Depois de ter levado a Revolução Cubana à vitória em 1959, ao lado de Fidel e Raúl Castro, Che se dedicara a espalhar ideais revolucionários pelo mundo. "Ele esteve no Congo em 1964, onde experimentou um terrível revés, e, de volta a Cuba, entrou na clandestinidade para trabalhar secretamente em seus novos planos: criar na América Latina um foco guerrilheiro que pudesse convulsionar todo o continente", diz o historiador mexicano Jorge Castañeda em Che Guevara - A Vida em Vermelho. "Na época, a América Latina parecia um grande tabuleiro da Guerra Fria, onde ondas de inspiração comunista esbarravam em ditaduras militares apoiadas pelos Estados Unidos."
A Bolívia não fugia à regra. Em 1964, depois de duas décadas de instabilidade (em que sindicatos, Exército e latifundiários se digladiaram pelo poder), um golpe pôs no governo o general René Barrientos. A Bolívia se tornou, então, um notório aliado dos Estados Unidos - naquela época, em termos de ajuda militar americana, o país só perdia para Israel. Era a nação mais pobre da América depois do Haiti. Repressão, pobreza, presença imperialista: segundo as concepções políticas de Che, a Bolívia era perfeita para uma nova vitória revolucionária. Para colocar a teoria
em prática, entretanto, era preciso recrutar uma equipe. Em julho de 1966, enquanto Che permanecia incógnito, Raúl Castro, comandante das Forças Armadas de Cuba, convocou alguns veteranos da Revolução Cubana. O capitão Harry Villegas Tamayo, o Pombo, estava presente e relembrou a cena em 2006, numa entrevista à rrevista chilena Punto Final. "Raúl disse que havíamos sido chamados para integrar uma Brigada Internacional de Combatentes pela Liberdade dos Povos", afirmou. "A resposta foi um unânime 'eu vou!'" A tropa de elite passou por três meses de treinamento. Depois, todos seguiram por caminhos diferentes para a América do Sul. Já Che precisava de um bom disfarce para conseguir chegar à Bolívia sem ser notado. Cortou o cabelo e a barba, adotou óculos de lentes grossas e colocou uma prótese dentária que mudou sua fisionomia e sua voz. No fim de outubro, visitou sua família pela última vez em Havana. Jantou com as filhas, apresentado a elas como "tio Ramón". O disfarce funcionou - as meninas só saberiam que aquele era seu pai depois de receber a notícia de sua morte.
Bem-vindo à selvaA região do rio Ñancahuazú é coberta por uma mata densa, cortada por córregos e mangues. De repente, erguem-se elevadas montanhas ou abrem-se crateras e desfiladeiros, chamados na região de quebradas. Foi às margens das águas barrentas do Ñancahuazú que Che encontrou pela primeira vez sua tropa, instalada num sítio que haviam comprado na região para servir de disfarce temporário. Eram apenas 13 homens, entre veteranos cubanos e jovens bolivianos.


Em novembro, Che inspecionou o primeiro acampamento na selva - duas cabanas sobre o chão barrento. No início de dezembro, o líder anotou em seu diário (que depois seria publicado como Diário da Guerrilha Boliviana): "Não tenho os homens e as armas que esperava". Che se referia à falta de ajuda do Partido Comunista Boliviano. Seu líder, Mário Monje, insistia em ter a palavra final sobre a guerrilha. Che não aceitou, e os dois cortaram relações. A briga era indesejável, mas não comprometia a estratégia de Che. O apoio de partidos e sindicatos poderia ser obtido à medida que avançassem as conquistas dos guerrilheiros. A referência, é claro, era a Revolução Cubana - que quando começou, no fim de 1956, tinha apenas 12 homens isolados no meio do mato (incluindo o próprio Che). Todo o discurso político, porém, parecia muito distante naquela manhã de janeiro de 1967, em que a selva de Ñancahuazú afundava sob as chuvas de um verão amazônico.Foi quando os guerrilheiros liderados por Che deram os primeiros passos de sua quimera revolucionária. Já eram 27 homens que, em expedições diárias, se familiarizavam com o território. A fase de "implementação e infra-estrutura" durou quase dois meses. Numa área de cerca de 140 quilômetros quadrados, estabeleceram postos de observação e abriram covas para estocar remédios, alimentos, armas e equipamentos de comunicação. "Abrir trilhas e desenhar rotas para deslocamento e defesa não parecia uma missão perigosa, nem revolucionária, mas era cumprida com dedicação absoluta e disposição militar", lembra Dariel Benigno Ramirez, um dos veteranos da guerrilha, em Memorias de un Soldado Cubano (inédito em português).
Surra no Exército"O primeiro estágio está terminado. Os homens chegaram algo cansados, mas de modo geral conduziram-se bem", anotou Che em 1º de fevereiro. O próximo passo seria treinar os combatentes para a sobrevivência na selva. Che, então, montou três grupos para uma expedição, prevista para durar 15 dias. No acampamento ficaram apenas quatro combatentes. "A marcha era a principal atividade. Che, exigente com a disciplina, fazia o grupo caminhar em silêncio, mantendo uma distância de 20 metros entre um e outro", relatou o capitão Villegas. Andar uma dezena de quilômetros sob chuva, em trilhas enlameadas, podia levar o dia todo. Quando o grupo de Che tentou atravessar o rio Grande, o boliviano Benjamin Coronado Córdoba foi levado pela correnteza e morreu afogado. A primeira baixa da guerrilha viera antes do primeiro tiro ser disparado.
A volta foi ainda mais cansativa - a expedição já havia tomado quase um mês. Desde a chegada à Bolívia, Che tinha perdido 20 quilos. Sua barba voltara e ele sofria com ataques de asma, dores nas mãos e pés inchados. No acampamento, sem notícias do resto do grupo, Vicente Rocabado e Pastor Barrera desertaram em 11 de março. A caminho da vila de Camiri, tentaram vender um fuzil e foram denunciados. Presos, falaram da guerrilha. E disseram que o líder era Che Guevara.
As forças armadas bolivianas foram colocadas em alerta. Em março, patrulhas saíram de Camiri para investigar a região. No dia 23, cerca de 40 militares estavam na margem direita do Ñancahuazú, carregando armamento pesado e avançando devagar. Com a água batendo na cintura, os soldados tentavam atravessar o rio quando, por volta das 8h30, um tiro acertou o último homem da retaguarda. Após o estampido seco do fuzil, a selva cuspiu rajadas de metralhadora. Os soldados não viram quem os atingia. A ação, feita por sete guerrilheiros, deixou sete militares mortos, quatro feridos e 14 capturados. Os prisioneiros foram levados ao acampamento da guerrilha, onde receberam medicação e alimento. No dia seguinte foram soltos - aliviados de três morteiros de 60 milímetros, 16 pistolas Mauser, três submetralhadoras Uzi, dois rifles BZ, dois rádios, duas mulas, um cavalo e alguns pares de botas. "Os soldados em serviço militar, mal treinados e mal armados, quando não foram simplesmente afugentados, sofreram fragorosas derrotas para a guerrilha que parecia, nos dois primeiros meses de conflito, invencível", afirma o jornalista americano Jon Lee Anderson em Che Guevara - Uma Biografia. Em 10 de abril, um grupo de cerca de 150 soldados apanhou de uma dúzia de guerrilheiros e acabou com dez mortos e 30 prisioneiros. A guerrilha sofreu apenas uma baixa: o veterano capitão Suarez Gayol, ex-ministro da Indústria do Açúcar em Cuba.
Alarmado, o governo boliviano buscou ajuda nos Estados Unidos e nos países vizinhos. De Argentina e Peru e, em menor escala, do Brasil recebeu apoio logístico, equipamentos e informações. Do norte, recebeu mais. "O governo norte-americano promoveu um programa de treinamento para ações de contraguerrilha e forneceu armas automáticas relativamente modernas e outros equipamentos ao Exército boliviano", diz um relatório do Departamento de Estado americano de maio de 1967. Naquele mês, quatro oficiais e 12 fuzileiros navais chegaram à Bolívia para treinar 600 soldados.
Outro documento, de 18 de maio, mostra que os americanos estavam preocupados com o eventual apoio popular aos rebeldes: "Entre eles, há médicos que tentam tratar das crianças em lugarejos destituídos de qualquer outro tipo de assistência".
Metade a menosA presença dos militares dificultava o contato da guerrilha com La Paz. Lá, a argentina Tamara Bunke mantinha um esquema de apoio aos homens de Che - era a "rede urbana". Boa parte da comunicação com a capital era feita pelo filósofo francês Regis Debray (amigo e mensageiro de Fidel) e pelo artista argentino Ciro Roberto Bustos, que costumavam visitar os guerrilheiros. Em abril, com o Exército de prontidão, Debray e Bustos não conseguiram voltar a La Paz. guiam voltar a La Paz.Por causa disso, no dia 17, Che tomou uma decisão que selaria o destino de todos: dividiu a guerrilha em dois grupos, um de avanço e outro de espera. Liderando o primeiro, Che tentaria ocupar o povoado de Muyupampa para, de lá, mandar os dois mensageiros a La Paz. Já a tropa de espera, sob o comando de Joaquín (Juan Vitalio Nuñez, membro do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba), aguardaria perto do povoado de Bella Vista.
Che deveria voltar em três dias. Ao se aproximar de Muyupampa, a tropa de avanço encontrou o jornalista nglês Tom Roth, que insistia em fazer uma entrevista. Apesar do risco, Che aceitou. Em troca, Roth deveria levar Debray e Bustos em seu carro até Camiri, a cerca de 300 quilômetros dali. Esforço inútil. Em 20 de abril, Debray e Bustos foram presos.
Após um mês de tortura, o francês acabou confirmando a presença de Che na selva. Já Bustos colaborou desde o primeiro dia, dando preciosas informações e até desenhando o rosto dos guerrilheiros. Em 25 de abril, o grupo avançado foi atacado pelo Exército. Che anotou: "Um dia negro". Referia-se à morte de Eliseo Reyes, que havia combatido a seu lado em Cuba. Seguiu-se uma longa retirada pelo norte, na direção oposta ao ponto de encontro com Joaquín. No dia 14 de junho, Che questionou até quando a idade permitiria que ele continuasse a ser guerrilheiro. "Por enquanto, ainda estou inteiro", escreveu. Era seu aniversário de 39 anos. Em agosto, Joaquín resolveu sair em busca de Che. Começou a busca na casa de Honorato Rojas, camponês que já havia servido de guia para a guerrilha. Depois de mais de 20 dias andando, o grupo acampou perto da casa de Honorato, em Vado del Yeso. Ao amanhecer de 30 de agosto, Joaquín enviou homens até lá para pedir comida. Honorato prometeu algo para o dia seguinte. Enquanto isso, mandou o filho alertar o Exército. Às 16h do dia 31, Joaquín apareceu e pagou a Honorato pela sopa de milho e pelos pães. Na volta, perto de um rio, os 16 guerrilheiros foram surpreendidos por tiros vindos das árvores. Dez morreram na hora, incluindo Joaquín. Longe dali, sem saber de nada, Che escreveu que o mês de agosto fora "o pior desde o início da guerrilha". Mas, esperançoso como sempre, considerou que o Exército não tinha aumentado "nem sua eficácia nem sua iniciativa". Estava errado.No início de setembro, Che foi em busca de Joaquín. Assim como o companheiro, decidiu ir procurar na casa de Honorato. Durante dias de caminhada margeando o rio Grande, ouviram pelo rádio que os colegas haviam sido emboscados. No início, Che duvidou. Mas a precisão das informações o fez aceitar o fato. As notícias diziam também que a rede urbana em La Paz tinha sido desbaratada.
Che percebeu que seus homens eram tudo o que lhe restava e, portanto, o único foco do Exército seria pegá-los. Estava certo. O grupo mudou de rumo, em direção aos vilarejos de Pucará e La Higuera. Esperavam recrutar gente para a luta e conseguir comida. Em seu diário, Che anotou as dificuldades alimentares daqueles dias: "Urbano [codinome do cubano Leonardo Tamayo Nunes] matou um cavalo (...). Ao meio-dia tomamos seu sangue. De noite, assamos a cabeça e eu comi os olhos e o cérebro. Depois, sopa de frango."
No dia 26 de setembro, às 3h da madrugada, a marcha recomeçou. Perto de La Higuera, Roberto Peredo caiu morto, atingido por um disparo. Seguiu-se um tiroteio. O saldo foi trágico: três mortos, dois feridos e duas deserções. Che percebeu que o Exército conhecia sua posição e que uma nova emboscada seria questão de tempo. Em Vallegrande, maior cidade da região, estava o quartel da unidade militar treinada para combater a guerrilha: o Segundo Batalhão de Rangers. Mais de 2 mil militares estavam no encalço de Che.Apenas um homemEm contraste com a selva que a guerrilha havia enfrentado durante meses, a região próxima a La Higuera tem mata baixa e vegetação rala. Lá, na manhã de 7 de outubro, Che e seus 16 homens encontraram uma velha que caminhava com sua filha. Temendo a delação, os guerrilheiros ofereceram à mulher 50 pesos pelo seu silêncio.
A pobre senhora recebeu o dinheiro. E, assim que cruzou com militares, detalhou a posição exata dos barbudos. Na madrugada do dia 8, o Exército bloqueou todas as rotas de fuga. Voltando de uma inspeção, dois homens de Che avistaram dezenas de soldados no alto do desfiladeiro. O grupo estava encurralado no fundo da quebrada de Yuro: uma garganta de 300 metros de comprimento e menos de 50 metros de largura. Che decidiu esperar a noite para tentar furar o cerco. A silenciosa tensão foi rompida por volta de 13h30, quando o Exército abriu fogo contra os guerrilheiros. Quatro deles caíram mortos. No tiroteio, Che foi atingido e não podia mais andar sozinho. Carregado pelo boliviano Simeón Cuba, ele permaneceu disparando até que um tiro arrancou a carabina de suas mãos. Che e Willy acabaram cercados e rendidos por militares bolivianos. Segundo o relato de um deles, o sargento Bernardino Huanca, o revolucionário teria lhe dito: "Não atire. Eu sou Che Guevara. Valho mais para você vivo do que morto". Dos homens de Che, dez escaparam da emboscada. Metade deles seria morta nos próximos dias. Apenas cinco sairiam das montanhas com vida (os bolivianos Guido Peredo e David Veizaga voltariam à luta armada e acabariam mortos em La Paz, em 1969. Apenas os cubanos Benigno, Urbano e Villegas ainda estão vivos). Che, Willy e o peruano Juan Pablo Chang, que também havia sido preso na quebrada do Yuro, foram levados a uma escola em La Higuera. Lá, Che foi interrogado. No dia seguinte, perto das 13h, Willy e Chang foram executados. Pouco depois, naquele calorento 9 outubro de 1967, sentado numa sala com chão de terra, Che foi assassinado pelo tenente Mario Terán com uma rajada de fuzil. Para evitar sinais de execução, não foram dados tiros na nuca ou na cabeça.
Celso Miranda e Giovana Sanchez


REGIMENTO DE CAVALARIA 3


REGIMENTO DE CAVALARIA 3 - Trezentos anos de hostória

Trezentos anos! 3600 meses. Quinze mil e seiscentas semanas. Um total que vai além dos cento e nove mil e quinhentos dias, de vida de uma Unidade militar portuguesa cujo percurso histórico se entrelaça e confunde na História Pátria.

A sala de visitas de Estremoz, o Rossio, razoavelmente emoldurado pela população civil, recebeu as Forças em Parada, comandadas pelo tenente-coronel Paulo Geada, 2º comandante do RC3, constituídas pela Banda Militar de Évora, bloco de Estandartes e dois grupos de Cavalaria (o primeiro, sob comando do tenente-coronel Abel Matroca, Esquadrão de Comando e Serviços com um pelotão orgânico, um pelotão da Unidade de Aviação Ligeira do Exército e Esquadrão de Reconhecimento da Brigada de Reacção Rápida a dois pelotões orgânicos; o segundo, sob comando do major João Carlos Verdugo, constituído por dois Esquadrões de Cavalaria a dois pelotões da Escola Prática de Cavalaria e do Regimento de Cavalaria 6, e do Regimento de Lanceiros 2 e Quartel de Cavalaria de Santa Margarida); que ouviram uma alocução do comandante do RC3, coronel Eduardo Marinheiro e mensagens do chefe de Estado Maior do Exército, general José Pinto Ramalho e do general comandante da Instrução e Doutrina (Évora) de que depende hierarquicamente o RC3. Ao lado da tribuna, empunhados por antigos combatentes da Guerra do Ultramar (ou Colonial), encontravam- se os guiões do Batalhão Cavalaria 627 e BatCav 8321, mobilizados pelo RC3 para Angola, respectivamente, em 1964/66 e 1973/74. Em fundo, enquandrando a formatura, o balão de ar quente e uma torre de escalada com slide, ambos das tropas pára-quedistas, que nos dias antecedentes tinham estado “à disposição” da juventude local. O Dia da Unidade do Regimento de Cavalaria 3 evoca a batalha de Fuente de Cantos, ferida a 15 de Setembro de 1810 em que dois esquadrões da Unidade se bateram de tal maneira que o marechal inglês Guilherme Beresford, muito avesso a elogios, mandou exarar na Ordem de Serviço (03Nov): «Raríssimas vezes acontece haver na guerra conduta mais brilhante », frase que deu origem à divisa que o brasão da Unidade ostenta: “Conduta brilhante na guerra”. Porque «o RC3 sempre soube demonstrar a sua capacidade para se transformar e adaptar às novas realidades político estratégicas» fica explicada «tamanha longevidade vivida sempre de forma participativa, activa e destacada sendo útil a Portugal e aos portugueses», disse o comandante da Unidade na sua alocução. O ponto mais significativo da cerimónia foi vivido quando ao Estandarte Nacional da Unidade, foi imposta a insígnia de título de Membro Honorário da Ordem de Avis, condecoração atribuída ao Regimento de Cavalaria 3 pelo Presidente da República em 21 de Maio último. A Ordem Militar de Avis premeia “Altos serviços militares”. O Estandarte Nacional ostenta, agora, as seguintes insígnias: Medalha de Prata de Valor Militar com Palma, condecoração atribuída ao Batalhão de Cavalaria 2899 – “Ás de Espadas” – por comportamento brilhante em Angola entre 1969/1971; Medalha de Ouro de Serviços Distintos atribuída ao RC3 em 15 de Setembro de 1998, pelo seu “Brilhante e longo historial” e, desde 18 de Setembro de 2000, a Ordem da Liberdade pelos “Serviços relevantes prestados pelo Regimento em defesa dos valores da civilização, em prol da dignificação do Homem e a causa da Liberdade”. Em 5 de Abril de 1993 a Câmara Municipal de Estremoz agraciou o RC3 com a Medalha de Ouro da Cidade. Durante a cerimónia foram também impostas as condecorações com que militares do Regimento foram agraciados ao longo do ano. Após o desfile das Forças perante a tribuna, a Banda Militar de Évora, sob a batuta do sargentomor Canoa Ribeiro, deliciou os presentes com a interpretação de várias obras do seu repertório. Presididas pelo vice-chefe do Estado Maior do Exército, tenente- general Fialho da Rosa, às cerimónias assistiram, o comandante de Instrução e Doutrina, major-general Vaz Antunes, o director da formação do Comando de Instrução e Doutrina, majorgeneral Cunha Piriquito, o general Martins Barrento, outros oficiais generais, alguns deles com fortes ligações à Unidade, que chegaram a comandar, como, entre outros, o tenentegeneral Carlos Cadavez, director honorário da Arma de Cavalaria; uma representação das Forças Armadas espanholas; entidades civis, nomeadamente a presidente da Assembleia Municipal, Maria Odete Ramalho, o presidente da Câmara de Estremoz, José Alberto Fateixa e a governadora civil do Distrito de Évora, Fernanda Ramos. Do Governo da Nação, assoberbado com a presidência da União Europeia e ocupado com a abertura do ano lectivo e distribuição de computadores a docentes e alunos, ninguém teve disponibilidades de agenda para se deslocar a Estremoz... na manhã dessa sexta-feira. Um almoço convívio no magnífico claustro do Convento de S. Francisco – quartel do RC3 – encerrou duas semanas de actividades comemorativas dos 300 anos do Regimento de Cavalaria 3.
CONDECORAÇÕES
Sargento ajudante Infantaria, Guilherme Ganhão Guerra – Mérito militar de 4ª classe. Com a Medalha D. Afonso Henriques: Tenente coronel Cavalaria, Paulo Faro Geada e Major SGE (Reserva Activa), José Lopes Ferreira – 2ª classe; Major Cav. Luís Mourato Gonçalves – 3ª classe; Sarg. mor Cav. – Angelino Gato Cabacinho – 4ª classe; Medalha de Comportamento Exemplar: Sargento ajudante Cav. José Espada Batalha e 1ºs sargentos, de Cav. Inácio Pitadas Borracha e de Infantaria Sérgio Vasques Nunes – Prata; Tenente Cav. Samuel Pereira Gomes, 1º sargento Cav. Nuno Pestana Ticas, cabo adjunto José António Matias, 1º cabo Ricardo Esberard Silva e 2º cabo Carlos Santos Pimentão – Cobre.

DOS ANTIGOS TERÇOS AO RC
A origem do Regimento de Cavalaria 3 está na reorganização do Exército promovida por D. João V em 1707 quando a unidade administrativa militar passa à designação de Regimento em substituição do até então Terço. Nesse ano, na Praça de Olivença é criado um Regimento de Cavalaria Ligeira. Em 1742, o então R.C. de Olivença é extinto e passa a designar-se de Regimento Dragões de Olivença. Em Maio de 1801 a Espanha ocupa Olivença (e Juromenha) e o regimento retira-se para Torres Novas. Passa a desigar-se Regimento de Cavalaria Nº 3. Esteve aquarteldo em Moura, em Beja. Participou activa e heroicamente na Guerra Peninsular (Fuente de Cantos, Talavera la Real, Albuera, Almendralejo...). Em 1814 está aquartelado em Elvas. Por ter aderido à Causa Miguelista é extinto pelos Liberais passando a sua denominação para o RC10 (Castelo Branco). Após várias localizações e denominações em 5 de Abril de 1875 instala-se definitivamente em Estremoz. Na 1ª Grande Guerra 1914/18 o RC3 mobiliza forças para Angola e Moçambique. Em 1959 o Esquadrão de Reconhecimento nº 1 “Dragões de Olivença” parte para a Índia. Durante a Guerra do Ultramar 1961/1975 (Angola, Moçambique, Guiné) o RC3 formou dois Esquadrões de Reconhecimento, 17 Companhias independentes e 42 Batalhões, num total de cerca 42 mil homens. Forças do Regimento tomaram parte activa no “25 de Abril de 74” e em “25 de Novembro de 75”. Forças da Unidade estiveram em missão de paz no Kosovo (Erec/BAI - Esquadrão de Reconhecimento da Brigada Aérea Independente). O RC3 é herdeiro da história, património e tradições dos Regimentos de Cavalaria nºs 10, 5, 8 Regimento de Lanceiros 1, as duas últimas unidades extintas em Abril de 1975. Em 1 de Abril de 1975 passou designar-se Regimento de Cavalaria de Estremoz. Em 1993 recupera a sua mais antiga denominação: Regimento de Cavalaria Nº 3.

in Brados do Alentejo

sexta-feira, 29 de junho de 2007

Crianças, pais, habitantes: recursos da vida local — Perspectivas de trabalho do ICE 1


Os níveis de pobreza e a desigualdade entre ricos e pobres assumem, nos nossos dias, proporções elevadíssimas, embora variando de país para país, como resultado das políticas que nas últimas décadas foram sendo implementadas.
Por exemplo, centrando-nos no espaço europeu e lembrando-nos de um estudo recentemente anunciado em Portugal, verifica-se que a taxa de pobreza é de 16% na União Europeia e de 20% em Portugal, e que a taxa de desigualdade na Europa Comunitária é de 31% e que em Portugal atinge o escandaloso valor de 41% (cf. Rodrigues, 2007)! Como diz R. d’Espiney, pode afirmar-se que, na actualidade, “vivemos num mundo onde está presente a desesperança e a desestruturação” (2007) e, como tal, onde crescem os fenómenos de exclusão.Neste contexto de globalização e de ditadura do económico sobre todas as outras dimensões da vida das sociedades, os espaços rurais surgem-nos numa crise profunda. Isto porque o modelo de desenvolvimento implementado, apostando na centralidade, abandonou e desestruturou tudo quanto é periférico.Em Portugal, particularmente a partir dos finais dos anos de 1950 e início dos anos de 1960, o mundo rural era uma reserva de mão de obra tanto para as periferias de Lisboa e do Porto como, clandestinamente, por causa da ditadura de Salazar, para a França. De lá até cá, os espaços rurais foram sendo sucessivamente abandonados pelas políticas implementadas. Assim, o mundo rural foi ficando sem pessoas e, particularmente nas duas últimas décadas, os poucos que lá nasceram e cresceram entretanto foram fugindo em direcção às terras do litoral. Hoje, alguns desses espaços estão transformados em reserva de paisagem.Daqui resulta a existência de muitas e muitas aldeias por todo o país que se tornaram verdadeiros paraísos para os habitantes citadinos mais endinheirados, ao fim de semana ou em tempo de férias. No entanto, tal não significa que haja uma relação directa entre a presença esporádica dos habitantes da cidade nas aldeias e mais desenvolvimento dos espaços rurais visitados. Se é verdade que a presença de novos habitantes nas aldeias, venham eles de onde vierem, pode ser considerado, como diz Y. Jean (1995), como um factor importante de reconfiguração social, não é menos verdade que essa reconfiguração só se poderá tornar real se esses novos habitantes viverem, de facto, nos espaços rurais, ou seja, se a sua presença neles significar partilha permanente de modos de vida e de saberes e de contributo activo para uma vida melhor para todos.Isto faz-nos lembrar as palavras de F. I. Ferreira (2005), quando considera que, mais do que tornar o mundo rural visitável, é necessário torná-lo habitável por todos quantos ainda lá existem. Por outras palavras, diríamos que se torna necessário apoiar as ruralidades existentes, contribuindo para a construção colectiva de novas ruralidades que correspondam a uma vida com direitos. São, portanto, ruralidades que, mais do que também já significarem a possibilidade de estacionar um carro à porta de casa ou de possuir todos os aparelhos electrodomésticos, resultam de uma vivência comunitária que promove olhares críticos sobre a vida e o mundo próximo ou longínquo e que favorecem a construção permanente de alternativas para os lugares que se habitam. Por outras palavras, ainda, são ruralidades que resultam do facto dos habitantes rurais se transformarem em sujeitos activos e pró-activos dos seus destinos comunitários, em vez de se manterem como consumidores mais ou menos passivos da cultura urbana que os subjuga. É nesta perspectiva que se situa o trabalho que o ICE vai construindo, ano após ano, no âmbito de vários projectos em meio rural. Significa, portanto, trabalhar para “dar espaço ao local, tempo à sua afirmação, poder ao seu poder…” (Espiney, 1997:10), assumindo a modernidade como um direito para todos e questionando permanentemente as lógicas dominantes.A revolução de 25 de Abril de 1974 trouxe aos portugueses a possibilidade de viverem em democracia, coisa que lhes estava vedada há 48 anos. Como dizia o poeta José Carlos Ary dos Santos, Portugal era “um país onde entre o mar e a guerra vivia o mais infeliz dos povos à beira-terra”.No início, a aprendizagem da democracia fazia-se em cada bairro ou lugar, participando activamente com palavras e actos colectivos de grande entusiasmo. As pessoas uniam-se para provocar a mudança, tanto de maneira informal como dinamizando espaços associativos já existentes ou construindo novos.Em 25 de Abril de 1976, os portugueses tiveram oportunidade de participar nas primeiras eleições livres do pós-revolução. A afluência às urnas foi enorme. Iniciava-se, assim, a aprendizagem da democracia representativa à escala nacional.Com o avançar do tempo, a participação nas eleições passou a fazer parte dos hábitos políticos. Simultaneamente, durante esse mesmo tempo, e como os processos de democracia participativa não se dinamizaram, também se aprendeu a não usá-las. Deste modo, o voto de 4 em 4 ou de 5 em 5 anos passou, para muitos, a ter pouca ou nenhuma importância. Esta situação tem representado um dos lados mais visíveis do crescente alheamento dos portugueses face à política, o que se manifesta de formas diversas quando pensamos, também, na vida do quotidiano: a atitude é mais contemplativa do que interventiva e delega-se tacitamente nos outros o poder de resolução dos problemas.É a atitude de consumidor passivo, que se aprendeu ao viver de acordo com a lógica dominante de mercado, que se vai transpondo para as relações políticas, sociais e culturais do dia a dia: embora se manifeste a necessidade de trabalhar em colectivo, tende-se para o individualismo e para a satisfação rápida de necessidades que estão muito mais associadas ao ter do que ao ser. Tudo isto num contexto de aumento das desigualdades e da exclusão no seu sentido mais vasto e, naturalmente, de crescente infelicidade porque não se tem, materialmente, o que se deseja.Estes modos de agir também se verificam em meio rural, cada vez mais penetrado pela cultura dominante, urbano-centrada, onde, por isso, as culturas locais são tendencialmente abafadas ou, no mínimo, são relegadas para um plano secundário.Nesta tendência, afirmam-se perspectivas economicistas de desenvolvimento, eminentemente técnicas, que não tomam em consideração os habitantes locais, a sua identidade, o seu sentir e as suas potencialidades. Coloca-se de parte, portanto, a criação efectiva de condições para a emergência de um desenvolvimento local que seja o resultado de uma construção colectiva em que interagem, de forma equilibrada e justa, factores internos e externos.Assim, na perspectiva de contributo para o desenvolvimento local em meio rural, o trabalho do ICE orienta-se para:
A construção da cidadania, sendo esta entendida como participação activa e pró-activa na vida da comunidade a que se pertence. Mais do que reagir às situações ou aos problemas, trata-se de construir alternativas de mudança, que vão ganhando corpo de inovação em inovação, a partir do questionamento permanente do que existe. Aposta-se, deste modo, em processos de mudança das relações de poder.
A ressocialização, ou seja, o desenvolvimento de novas relações das pessoas entre si e com o contexto. Trata-se, por um lado, de um trabalho em que se promove o estabelecimento ou o aprofundamento de relações comunicacionais intergeracionais, com base na informalidade, partindo do pressuposto do reconhecimento dos saberes, das capacidades e das competências que cada grupo geracional possui; trata-se, por outro, de um trabalho de promoção de relações inter-institucionais e inter-locais que configurem um desenvolvimento em parceria, em rede.
A indução de expectativas, ou seja, um trabalho desenvolvido a partir e com os desejos das pessoas; um trabalho que radica na escuta sensível do outro, que promove a sua valorização. Trata-se, por isso, de uma intervenção orientada para a promoção da sua felicidade.
A requalificação do património, sendo esta entendida como o desenvolvimento de novos olhares sobre o que existe a nível local e a busca colectiva de novas funções para esse mesmo património. Trata-se da valorização do património existente através de um trabalho em que se reflecte sobre os sentidos da sua existência, se procuram formas de o preservar e se constroem novas formas de relação com ele. Trata-se, portanto, de um trabalho de recriação do património existente.
A operacionalização destes propósitos ganha corpo e sentido em vários projectos que nascem e se desenvolvem em espaços geográficos diversos do território português. Possuem, por isso, uma identidade própria. No entanto, e apesar da sua diferença, estes projectos materializam-se a partir de algumas linhas estratégicas matriciais que, simultaneamente, são também metodológicas.A ressocialização passa pela criação de espaços de interacção. Estes espaços assumem configurações diferenciadas. Tanto podem ser de ordem informal – grupos que nascem a partir do reconhecimento da necessidade de uma aproximação das pessoas e que, assim, se juntam para discutir sobre a vida e o mundo – como podem ser espaços organizados em torno do desenvolvimento de uma ideia, de uma actividade ou de um projecto. Quer uns, quer outros têm duração variável – uns, surgem com carácter pontual, outros prolongam-se no tempo de acordo com as dinâmicas e necessidades do grupo.Estes espaços de interacção são alimentados pelos contributos de vários grupos geracionais. São espaços em que habitantes de idades diferentes participam, experienciando exercícios democráticos de opinião, de proposta e de construção.São espaços de grande alcance educativo porque resultam de actos de cultura em que se cruzam processos de socialização entre grupos da mesma faixa etária e processos de socialização vertical descendente e ascendente, promovendo o desenvolvimento de competências, a descoberta de recursos e a construção de aprendizagens. São, portanto, espaços de cidadania em que tanto as crianças e jovens são assumidos como sujeitos de direitos, logo, competentes, com vez e voz, como os mais velhos têm condições para verem valorizada a sua memória, que funciona, assim, como ponte para a modernidade. Estes processos de ressocialização proporcionam aprendizagem e construção democrática em colectivo. Enquanto espaços de interacção numa perspectiva pró-activa, possibilitam, por isso, processos de alteração do património existente. Processos estes que resultam de exercícios de reflexão e de acção em que, a partir da interpelação do presente e de buscas no passado, se misturam ingredientes que alimentam possibilidades de construção de um presente-futuro.É, portanto, um trabalho que, estratégica e metodologicamente, assenta na valorização ou promoção das culturas locais, através de processos que possibilitam, simultaneamente, ultrapassar passados pontuados pela tristeza e futuros marcados por grande incerteza.De acordo com as dinâmicas de cada grupo e com as possibilidades de desenvolvimento de parcerias de acção, assim se vão construindo projectos locais, de base colectiva, assentes na partilha e na cooperação. Porque correspondem a exercícios de cidadania de grupos específicos, estes projectos desenvolvem-se com objectivos diferenciados, resultando, por isso, em construções locais peculiares.
Joaquim Marques
Referências bibliográficas Espiney, Rui d’ (2007). Notas pessoais retiradas da síntese final da reunião Interequipas do ICE de 16 de Março de 2007.Espiney, Rui d’ (1997). ICE: Um Perfil, Um Percurso, 1992-1997. Uma proposta da sociedade civil. Setúbal. ICE – Instituto das Comunidades Educativas.Ferreira, Fernando Ilídio (2005). O Local em Educação. Animação Gestão e Parceria. Colecção Textos de Educação. Lisboa. Fundação Calouste Gulbenkian.Jean, Yves (1995). Estado, Escola e crise dos espaços rurais. in Canário, Rui (org.). Escola Rural na Europa. Cadernos ICE nº 2:33-48. Setúbal. ICE – Instituto das Comunidades Educativas.Rodrigues, Carlos Farinha (2007). Distribuição do Rendimento, Desigualdade e Pobreza em Portugal. Intervenção proferida na Conferência “Compromisso Cívico para a Inclusão”. (disponível em
último acesso em 21/06/2007)

[1] Texto-base da comunicação proferida no Fórum europeu “Crianças, pais, habitantes: recursos da vida local” realizado em Biarritz, nos dias 25 e 26 de Maio de 2007.

Censura, omissões, porteiros


1. Sendo as coisas o que são, e é sabido que as coisas na televisão portuguesa estão longe de ser grande coisa, acontece que os chamados “frente-a-frente” que preenchem a segunda parte do Jornal das Nove da SIC-Notícias são dos momentos a que, de um modo geral, vale a pena assistir. Por mim, esforço-me por não perder nenhum, e foi assim que um dia destes assisti ao curto debate havido entre Odete Santos e José Freire Antunes, deputado do PSD. Por sinal foi um debate com moderado antagonismo entre o expresso por uma e outra parte, o que até seria de estranhar dada a presença da ex-deputada do PCP, mas nem por isso foi menos interessante. É que se falou do que, utilizando uma fórmula eufemística, poderá designar-se por “silenciamentos impostos à comunicação social” na sociedade portuguesa actual. Odete, talvez porque gosta de clareza e de ir ao essencial das coisas, falava de censura, explicando naturalmente que há mais censuras para lá do já mítico lápis azul que em Abril de 74 desceu a uma igualmente mítica gaveta e por lá ficou. Freire Antunes preferia falar em “omissões”. É um modo mais “soft” de referir o mesmo efeito, mas talvez a escolha possa ajudar a caracterizar o actual José Freire Antunes, que, como tantos outros, evoluiu muito desde que da Beira Interior desceu à área da capital para escrever no histórico “Notícias da Amadora”, que mais tarde quase se celebrizou ao escrever que Mário Soares terá constado da lista de colaboradores da CIA, que é dos poucos convidados do Jornal da Noite que Mário Crespo trata por tu.
2. O que hoje interessa para aqui, de qualquer modo, é que Odete Santos falou de censura, que a denunciou como realidade actual, tendo sido menos relevante a água tépida que Freire Antunes tentou lançar sobre o assunto. É claro que quando nos maus velhos tempos o corte censório proibia uma notícia, uma foto, um poema, o resultado era uma omissão, para usar a palavra preferida por Antunes. Mas a censura de então, dita “dos coronéis”, era uma forma rudimentarmente tosca de produzir “omissões”, e a democracia conquistada em Abril e, sobretudo, conduzida em “Novembro” à sua “pureza inicial” descobriu outros caminhos. Sei de uma estória infelizmente verídica e de tal modo tão exemplarmente didáctica que me arrisco a contá-la sucintamente. Uma talentosa jornalista, vendo-se desempregada na sequência do encerramento do jornal de Esquerda em que trabalhava, dirigiu-se a um diário de “referência” na busca de novo emprego. Talvez por ser parente próxima de deputados e figuras destacadas da cultura portuguesa, foi amavelmente recebida por alguém com funções de topo no jornal a cuja porta batia. Até que, em dado momento da conversa, alguma coisa pareceu saltar na memória do anfitrião: “— Você em tempos foi comunista, não foi?”, perguntou ele. A jornalista respondeu com verdade e clareza: que não tinha sido, que continuava a sê-lo. Saltou então o verniz do sujeito que tão correctamente a recebia: “— É comunista e tem o descaramento de vir aqui pedir emprego neste jornal? Nem pense nisso, não queremos problemas!”. Como se compreenderá, não garanto a fidelidade textual das palavras, que não é decerto o que mais importa, mas estou certo de que as coisas se passaram, em traços largos, assim.
3. Foi já há uns anos. De então para cá, nada melhorou, tudo piorou. Com óbvia ironia, é justo dizer que o lápis azul se tornou dispensável porque o acto censório passou a ser exercido pelo porteiro do jornal, de cada jornal, que tem instruções para não deixar entrar na redacção quem for minimamente suspeito de “ser comunista”. A generalização do recrutamento de jovens jornalistas (ou, como há anos disse Baptista Bastos, de “simpatizantes” do jornalismo) com vínculo profissional precário, submetidos durante o tempo de formação a verdadeiras lavagens-de-cérebro sintonizadas com o “pensamento único” dominante, garantem a obediência às tácitas ou explícitas orientações das chefias e, em plano mais recuado, do patronato. Como regra geral, nem é necessária a feia acção que seria “comprar” esses jovens profissionais: eles já vêm formatados da fábrica, já sabem muito bem o que está socialmente excomungado e como lhes convém acatar essas excomunhões de que aliás não discordam. As excepções que me perdoem. Mas, se as há, não se notam na chamada “grande imprensa” como na “grande rádio e, o que para estas colunas importa especialmente, na “grande televisão”.
4. De tudo isto, e decerto de muito mais que aqui não cabe, resultam as “omissões” de que falou José Freire Antunes, a censura que Odete Santos denunciou. Sem lápis azul. Porque é moderna. E democrática. E assim os media vão ensinando às gentes, dia após dia, como é o mundo. Sempre de harmonia com o superior entendimento dos que deram ordens para que os porteiros não deixem entrar nas redacções dos jornais, das estações de rádio e de televisão, os que não convenham.
Correia da Fonseca

terça-feira, 19 de junho de 2007

Como vês o 25 de Abril

domingo, 17 de junho de 2007

70 canções de Abril... para aprender ou para recordar


70 canções do que há de mais representativo das músicas que "mexeram" com os anos 60 em Portugal. Têm a ver com a EMIGRAÇÃO, com a GUERRA COLONIAL e, depois e em consequência,com a REVOLUÇÃO em 25.Abr.74.

Estão aqui as melhores canções do Zeca Afonso, do Adriano Correia de Oliveira, do Manuel Freire e do Pe.(na altura) Fanhais. O Adriano e o Zéca já se "foram" e o Manel está agora com um grave problema de saúde, cardíaco.

Aproveitem estas cerca de 4 horas de lindas e "profundas"canções, que tanto tiveram a ver com as nossas vidas.

Para os que não viveram aqueles (terríveis) tempos, chamo a atenção para as letras das canções. Para "fugir" à censura, as letras não podiam dizer tudo, pelo que é preciso, muitas vezes, ler nas entrelinhas a mensagem que o autor queria fazer passar!

Algumas destas canções ainda hoje nos fazem arrepiar...

Ele foi a emigração dos nossos pais e irmãos, a nossa ida para a guerra colonial. Os que voltaram numa "caixa de pinho".... "....pergunta ao vento que passa/notícias do meu país/o vento cala a desgraça/o vento nada me diz..." "...e nunca mais acenderás o teu no meu cigarro....", canta o Adriano. Pois foi, tivemos o nosso "Vietnam", na mesma altura mas à maneira Portuguesa.....

sábado, 9 de junho de 2007

Grupo Desportivo Operário - No Bairro das Palmeiras continua por se cumprir Abril

O Presidente da Direcção do Grupo Desportivo Operário “Os Vermelhos”, Inácio Garcia, referiu que – “passados 33 anos após o 25 de Abril, não foram ainda atingidos, no Bairro das Palmeiras” melhorias na Habitação e Qualidade de vida das pessoas.“Isto significa, que nestes 33 anos de avanços e recuos no Bairro das Palmeiras, continua por se cumprir Abril.” – sublinhou Inácio Garcia.
“Esta obra não é do Inácio” acrescentando que o Bairro das Palmeiras “tem que ter unidade, dos sérios e dos honestos” – referiu Inácio Garcia, Presidente da Direcção do Grupo Desportivo Operário, no decorrer da sessão solene evocativa do 73º aniversario do clube.Inácio Garcia começou a sua intervenção prestando uma homenagem a “todos aqueles que por esta casa passaram, para lhes prestar as mais sentidas saudações e reconhecimento”, recordando que foi “na Quinta das Palmeiras, adquirida pelo industrial Alfredo da Silva em 1907 que nasceu o Bairro das Palmeiras.”Referiu que por volta de 1920, “dá-se um crescimento da população do bairro por via do desenvolvimento da CUF.”Bairro com memórias de geraçõesInácio Garcia salientou que os “naturais do Bairro das Palmeiras surgem na descendência dos primeiros ocupantes, no período da expansão dos anos 30 e por aí fora.”Recordou que “estes descendentes, que tornando-se adultos, vão abandonando o Bairro, para outras áreas do Barreiro, com melhores condições para residir.Alto do Seixalinho; Lavradio e Baixa da Banheira principalmente.”, acrescentando que “muitos outros, permaneceram no Bairro das Palmeiras, toda a vida, com as suas famílias.”O Presidente da direcção recordou que a colectividade nasceu no Bairro Velho da CUF, com o nome de “Os Vermelhos”, sendo fundada em 4 de Maio de 1934, “por operários que trabalhavam na CUF e que viviam neste bairro e no Bairro das Palmeiras. Este nome foi substituído, mais tarde, por Grupo Desportivo Operário “Os Vermelhos” em 1936, mas só 52 anos depois, em 1986, é que foi publicado oficialmente no diário da Republica. Referiu que durante muitos anos o clube desenvolveu várias actividades.O Grupo Desportivo Operário “Os Vermelhos”, salientou Inácio Garcia, “foi deixado durante longos anos ao abandono, sem que nenhuma entidade responsável pela nossa terra se propusesse salvar o património recreativo e cultural que esta associação representou, para o nosso bairro e para o Barreiro.” Na sua intervenção sublinhou que a actual Direcção do Grupo Desportivo Operário iniciou “um projecto com o objectivo único de ajudar as crianças, os mais idosos e os moradores do Bairro das Palmeiras.”Este projecto salientou visa “o combate à pobreza e à exclusão social sempre constou, e continuará a constar como uma das prioridades centrais” tendo por finalidade a “luta contra as discriminações, reforçando a integração das pessoas com deficiência e dos imigrantes.”Inácio Garcia salientou que a Direcção “agarrou a causa do Bairro das Palmeiras”, e que o fez por, “consciência social e como agente de bem-estar e desenvolvimento local.”Património também é a historiaNa sua intervenção referiu que “ninguém fica indiferente ao drama das pessoas que “vivem” neste degradado Bairro, gente que ficou e continua esquecida durante décadas (antes e depois do 25 de Abril)”.“Fizemos escolhas e queremos continuar a caminhar, passo a passo, determinadamente, mas sem recursos financeiros fomos obrigados provisoriamente a suspender os trabalhos da obra, lamentamos mas esta é a realidade actual.” – salientou Inácio Garcia. “ Penso que deveríamos todos reflectir e tomar como exemplo a importância do trabalho desenvolvido pelos Vermelhos, no Estado Novo, e sem desprimor para nenhuma outra colectividade do Barreiro, acho que património também é a historia do Grupo Desportivo Operário, Os Vermelhos e das suas tradições de luta pela conquista da democracia e da liberdade.” – acrescentou o Presidente da Direcção Na sua intervenção, Inácio Garcia referiu que – “entendemos ser agora (após 33 anos do 25 de Abril de 1974), o momento para que as entidades politicas da nossa cidade do Barreiro, reconheçam publicamente, a verdadeira importância que o Grupo Desportivo Operário - Os Vermelhos teve na luta contra a ditadura fascista de Salazar e pela conquista da Liberdade”.No Bairro das Palmeiras continua por se cumprir Abril Recordou que a direcção tem como objectivo principal – “a concretização da segunda fase da obra, criando depois, as condições para o necessário e inadiável apoio às gentes do Bairro das Palmeiras.” O Presidente da Direcção do Operário referiu que – “passados 33 anos após o 25 de Abril, não foram ainda atingidos, no Bairro das Palmeiras, alguns preceitos fundamentais, nomeadamente: a Habitação e a melhoria da Qualidade de vida das pessoas. Isto significa, que nestes 33 anos de avanços e recuos no Bairro das Palmeiras, continua por se cumprir Abril. Abril que tinha como objectivo principal a igualdade de oportunidades para todos.”Colectividade solidária e fraterna“A criação de uma creche/ATL, surge como uma meta a que o Grupo Desportivo Operário, Os Vermelhos confere grande importância e significado” – sublinhou Inácio Garcia, para além de considerar como metas a criação de Biblioteca, Sala de estudo, Cantina para fornecimento de refeições, Balneário publico – lavandaria), Posto Médico e realização de espectáculos diversos no salão principal.“Estamos convictos que após a conclusão da obra o Grupo Desportivo Operário - Os Vermelhos - irá dispor de meios e recursos para trabalhar cada vez melhor em áreas essenciais para o bem-estar da população do Bairro das Palmeiras, promovendo actividades com todas as colectividades do bairro, e criando as condições para que Os Vermelhos seja, cada vez mais, a colectividade solidária e fraterna que ZECA AFONSO tão bem cantou neste velhinho espaço de Liberdade.” – referiu a finalizar Inácio GarciaA importância do Movimento AssocoiativoO representante da Junta de Freguesia do Barreiro, recordou que as dificuldades do Movimento Associativo são um resultado da situação económica do país e recordou que as “colectividades têm um papel fundamental na ligação às populações, que não é reconhecido pelo Estado”.Joaquim Matias, Vice Presidente da Câmara Municipal do Barreiro, referiu que o Barreiro “atravessa um dos períodos mais difíceis da sua vida”, e recordou que o “trabalho sempre foi a riqueza do Barreiro”.“O Barreiro entrou em crise, entraram as colectividades e entraram as pessoas” – sublinhou Joaquim Matias.“O Barreiro tem que ser reconstruído com a participação de todos” – salientou.O representante do Governo Civil de Setúbal, sublinhou que é gratificante para o Governo Civil a existência de um movimento associativo dinâmico e recordou as dificuldades que existem que não permitem “uma evolução” que o Bairro das Palmeiras e o Operário merecem, finalizou referindo que será enviado um apoio financeiro ao clube.Após as intervenções seguiu-se o tradicional convívio e cantou-se os parabéns ao “Operário”.
Rostos
4 - 6 - 2007

A ofensiva contra o trabalho

Vivemos uma época de forte ofensiva do capital contra trabalho. Os últimos 20 anos têm sido marcados pela regressão dos direitos económicos e sociais, pela forte redução das funções sociais do Estado e pela desregulamentação do trabalho e das relações laborais. O mundo, hoje, está mais desigual, tem mais desemprego, está mais precário e mais pobre, apesar da revolução científica-técnica.Este é o resultado da contra-ofensiva neoliberal dos anos 80, da aliança Reagan/Thatcher/Gorbatchov, que provocou e aproveitou a mudança de correlação de forças entre capital e trabalho, «oferecida» pela derrota da União Soviética, e as consequências económicas e sociais das crises do sistema capitalista. Um caminho de reversão das conquistas sociais obtidas pelos trabalhadores no pós-guerra, particularmente ao nível da protecção social e da segurança no emprego. O imperialismo vestia-se de globalização, o capital, como de sua natureza, internacionalizava-se, o financeiro passou a predominar e parasitar as relações de produção e a libertinagem de circulação de capitais punha os trabalhadores em concorrência uns com outros.A social-democracia cumpriu o seu papel histórico: uma parte vendeu-se de corpo e alma ao neoliberalismo, outra aderiu a um «novo» reformismo, para gerir os descontentamentos sociais. Hoje, na Europa, a Alemanha é um exemplo evidente do duplo papel da social-democracia e um exemplo da intensificação da exploração do trabalho através do aumento do horário e do ritmo de trabalho, da redução dos salários, da subida da idade de reforma, etc. É neste quadro que a ofensiva de classe se intensifica, utilizando o seu instrumento UE, para flexibilizar mais ainda as relações laborais, com a dita «modernização» da lei laboral e a flexigurança. Estratégias do capitalO 25 de Abril traduziu-se na conquista de direitos sociais e laborais, na criação das principais funções sociais do Estado e da protecção social, na regulamentação do trabalho e das relações laborais, na segurança do emprego, no aumento dos rendimentos e dos salários e na redução das desigualdades. Apesar de todas as agressões, os aspectos fundamentais deste património da revolução continuam inscritos na matriz da Constituição da República.O pináculo da contra-revolução deu-se com a adesão de Portugal à então CEE, na mesma altura que esta se «transmutava» com o seu Acto Único para dar corpo à contra-ofensiva liberal mundial. Desde então, a política de direita, executada pelos dois partidos da alternância (PS/PSD e seu coadjuvante, quando necessário, CDS-PP), consolidou-se com as políticas e orientações comunitárias. Portugal começou por «pagar» a factura da concorrência com a destruição do aparelho produtivo e a progressiva desindustrialização. Os direitos conquistados em Abril foram postos em causa pelas opções comunitárias de classe. A caminhada para a moeda única intensificou a moderação salarial e as transferências dos ganhos de produtividade para o patronato. Com o pacto de estabilidade impôs-se a redução das funções sociais do Estado e a progressiva privatização da segurança social. Com ambos impôs-se a ortodoxia pela flexibilidade do trabalho. A estratégia europeia de emprego, com a dita empregabilidade, tornou o trabalhador «responsável» por não ter trabalho ou por não conseguir mantê-lo. Depois, com a directiva de liberalização dos serviços (a Prodi/Bolkestein), promoveu-se a desregulamentação do trabalho, a concorrência entre trabalhadores, o dumping social e ambiental.A estratégia de Lisboa, produto da social-democracia e a principal agenda do patronato europeu, veio atar todas as pontas, avançando para a liberalização/privatização dos serviços públicos.Agora, com o livro verde de modernização da lei laboral e a flexigurança, pretende-se impor a liberalização dos despedimentos e o fim da contratação colectiva, pondo em causa a nossa Constituição de República que proíbe o despedimento sem justa causa e consagra a contratação colectiva (artigos 53.º e 56.º).A flexigurança permite que o patrão use o trabalho (o trabalhador) da forma que mais lhe convier e quando lhe convier, podendo despedir quando quiser, assumindo o Estado (todos nós) os custos desta rotação.Esta ideia, cultivada pelo patronato europeu desde os anos 80, foi aplicada pela primeira vez na Holanda, numa altura em que mais de metade da força de trabalho tinha vínculos precários, e foi depois introduzida pelo presidente da social-democracia (PSE) na Dinamarca. Ao contrário do que se diz, não representa uma vitória dos trabalhadores dinamarqueses, mas uma derrota, uma perda de direitos sofrida com a cumplicidade de um sindicalismo rendido ao reformismo social-democrata.Em Portugal, vivemos, de novo, uma época dos «três D» – divergência, desigualdades e desemprego. Quem ganha? Os do costume. Os lucros, em percentagem do PIB, encontram-se hoje na União Europeia ao nível mais elevado dos últimos 25 anos. A capitalização bolsista e os ganhos da Banca não param de crescer... só encontram equivalente no ritmo de endividamento das famílias.Na Greve Geral de 30 de Maio, os trabalhadores portugueses deram um poderoso sinal de aviso ao Governo. Esta luta contra a política de direita irá continuar.