O escritor e poeta João Pedro Mésseder escreveu um conto de fadas sobre o 25 de Abril. O conto quer apresentar a História aos mais pequenos “para que a memória não seja apagada e o fascismo não seja branqueado”. Como em todos os contos, neste também há bons e maus. Joana Soares (texto)/Filipe Pires (foto) «Romance do 25 de Abril» lançado no dia 25 de Abril. João Pedro Mésseder, pseudónimo de José António Gomes, pensou num conto para as crianças, e também, “para os três milhões de portugueses que nasceram após a Revolução do 25 de Abril, há 33 anos”. O lançamento ontem não foi inocente, “a história já estava pensada”, só era preciso esperar pelos ponteiros do calendário para o «Romance do 25 de Abril» arranjar espaço nas livrarias. Dezenas de miúdos e graúdos engalfinhavam-se pelos corredores e cadeiras do auditório da Biblioteca Almeida Garrett, no Porto, para assistir ontem ao lançamento do conto, e não só - a par da apresentação da criação do João Pedro Mésseder, a Banda dos Gambuzinos, um grupo de petizes ecoaram pela sala sons harmónicos. “Os livros para crianças têm imensas metáforas, que estão muito cifradas. Eu investi nas alegorias para explicar às crianças quem foram os responsáveis pela passagem do 25 de Abril”, traduziu Mésseder, com um cravo pregado no bolso da lapela, ao JANEIRO, para de seguida justificar o feito: “Um livro para que a memória não seja apagada e não haja o branqueamento do fascismo”. Assim, o escritor conta em conto, “o conto de fadas” de Portugal e do 25 de Abril. “Pensam que os 48 anos de ditadura não foram um conto de fadas”, arranca João Pedro Mésseder, “mas estão enganados”. “Sim foi um conto de fadas com tudo de exaltante, tenebroso, sangrento, com heróis e heroínas, com falsos heróis, adjuvantes e agressores”, explica, não esquecendo que dos personagens fazem parte os “ogres”, ou seja, Salazar, Marcelo Caetano, PIDE, “que apodreciam a carne viva”, em Peniche, no Tarrafal, Caxias, Paços de Ferreira e outros locais. A carne viva que “apodrecia” nos edifícios da PIDE eram entre muitos, como o autor aludiu, Humberto Delgado, Ribeiro dos Santos, Amílcar Cabral, Bento Gonçalves, Catarina Eufénia. E como todos os contos de fadas “o desfecho é feliz com o 25 de Abril”. João Pedro Mésseder parafraseou Sophia de Mello Breyner Andersen, quando a escritora e poetisa descreveu o dia dos cravos como “inteiro e limpo”. «Romance do 25 de Abril» lê-se par a par com as ilustrações de Alex Gozblau. Em tons de verde e vermelho tal como é o fato de Portugal, Gozblau esforçou-se por pintar as figuras centrais do conto, muito parecidas com os protagonistas principais da História.
Do conto Romance do 25 Abril
“Agora ninguém mais encerra as portas que Abril abriu”. O verso de Ary dos Santos está exposto nas três primeiras páginas do recente conto de João Pedro Mésseder. Como enfatiza o autor, “para que a memória não seja apagada e para que não haja o branqueamento do fascismo”. E o autor na contra-capa abre as portas para que as crianças percebem no conto o que foi, afinal o 25 de Abril: “E se um menino se chamasse Portugal (...), o Portugal do antes do 25 de Abril pode ser comparado com um menino? Por que não? Como cresceu e sofreu e lutou já adulto para que fosse realizado um sonho. E esse sonho foi o da liberdade, é claro!”.
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